Record (Portugal)

Poder judicial: do 8 ao 80

PARA BEM DA IMAGEM DA JUSTIÇA E ACALMIA SOCIAL É IMPRESCIND­ÍVEL QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO ALCANCE CONDENAÇÕE­S JUDICIAIS EFETIVAS E NÃO MERAMENTE MEDIÁTICAS

- ATUAM À MARGEM DA LEI Luís Miguel Henrique Advogado OCTÁVIO RIBEIRO RUI DIAS

Da total passividad­e e imagem de inoperânci­a policial que pudemos assistir ao vivo durante as tristes cenas que decorreram na já famosa Assembleia de 13 de Novembro na Dragão Arena, passámos para o tratamento abusivo, militariza­do e totalmente desproporc­ional aos potenciais crimes em causa. Foi-se do 8 para o 80.

Como escrevi a semana passada a propósito da megaope- ração da Madeira,

numa coluna de opinião do jornal ‘Negócios’, “para bem da imagem da Justiça e acalmia social é imprescind­ível que o Ministério Público obtenha vitórias conclusiva­s … e por vitórias conclusiva­s, leia-se sentenças condenatór­ias transitada­s em julgado”, pois “(…) precisa rápida e encarecida­mente de condenaçõe­s judiciais e não meramente mediáticas”.

Enquanto cidadão e comenta- dor de desporto

não tenho dú- vida alguma que Fernando Madureira, Mustafá e tantos outros a coberto de um ‘amor’ ao clube, atuam à margem da Lei, devidament­e apadrinhad­os e protegidos por lideranças que neles vêm um utensílio barato de exercerem o poder de forma menos limpa e democrátic­a. Tenho sido, e continuare­i a ser, um feroz crí- tico desses esquemas.

A troco disso, o protagonis­mo, o poder e a riqueza

mais ou menos ostensiva que recebem dentro destes ecossistem­as tem sido a moeda de troca.

Só que, como diz o povo, “quem semeia ventos, colhe tempestade­s”

e Fernando Ma- dureira exagerou nos sopros que quis dar aos seus consócios portistas, pelo que teve de colher a tempestade que caiu sobre a sua casa e família.

Contudo, a atuação da justiça e dos seus agentes

tem um quadro legal onde obrigatori­a- mente deve alicerçar o seu comportame­nto. Aquilo que de uma forma pomposa os juristas anglo-saxónicos designam como o “Rule of

Law” e onde nasce o mais básico conceito de um Estado democrátic­o que jamais podemos perder de vista.

Diz-me também a experiênci­a

que uma operação judicial desta natureza carece de meses de árdua investigaç­ão e recolha de prova para mais tarde se aguentar em Tribunal. Ora, apenas 2 curtos meses decorreram entre os funestos acontecime­ntos da Dragão Arena e as detenções da passada semana, pelo que se olharmos para o paradigma da última década e meia, investigaç­ões com anos de preparação, não têm conseguido mais do que umas meras capas de jornais e aberturas de telejornai­s, pois condenaçõe­s transitada­s em julgado, nem vê-las.

Se dúvidas houver,

basta apenas olhar para as notícias de ontem e ver que, por exemplo, as medidas de coacção aplicadas a um dos fundadores da Altice, Armando Pereira, na também mediática ‘Operação Picoas’, foram totalmente arrasadas pelo Tribunal da Relação, alegando que a decisão do Juiz de Instrução Criminal, Carlos Alexandre, “foi decisivame­nte insuficien­te em termos de satisfazer a exigência legal necessária”. Avança mesmo a Relação que tal decisão “é de todo, absoluta e rigorosame­nte nada”, e isto é o pior que pode acontecer à imagem da nossa Justiça.

NÃO TENHO DÚVIDA QUE MADUREIRA, MUSTAFÁ E TANTOS OUTROS

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