Record (Portugal)

Adiamento e decisões orais

- MARCO FERREIRA antigo árbitro internacio­nal

O árbitro do jogo em Famalicão não foi o responsáve­l pelo adiamento inicial para as 19 horas. A responsabi­lidade da segurança está atribuída ao graduado da força policial. Ao árbitro compete apenas questionar se existem, ou não, condições de segurança para que o jogo se possa realizar, uma questão factual em que as únicas respostas são ‘sim’ ou ‘não’. Não existindo condições de segurança para se iniciar o jogo, o árbitro comunica à Liga que o encontro não se realiza. Tudo o resto é da responsabi­lidade da entidade organizado­ra. Ou seja, o adiamento para as 19 horas, sabendo-se que não existia segurança suficiente, e a consequent­e manutenção dos adeptos acumulados/misturados à porta do estádio, era racionalme­nte evitável. O interesse na realização do jogo, legítimo por parte da Liga, não pode ser superior ao da segurança das pessoas que se deslocam aos estádios. Os confrontos acontecera­m uma hora depois do horário previsto inicialmen­te para o apito inicial. Tudo seria evitado caso o regulament­o tivesse sido cumprido logo às 18 horas. Jogo cancelado por falta de segurança, desmobiliz­ação imediata dos adeptos e evitavam-se as imagens degradante­s de agressões associadas a um desporto em que todos apregoam ao respeito.

Os árbitros sempre foram ‘proibidos’ de falar sobre os lances de jogo, agora, em nome da transparên­cia, passam a ser ‘obrigados’ a justificar as decisões em pleno estádio. A discrição, desde sempre obrigatóri­a, dá lugar a um protagonis­mo forçado. Curiosa evolução que em nada contribui para a tomada de decisão.

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