Record (Portugal)

Brincar com o fogo

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Habituei-me a respeitar e a admirar Pinto da Costa anos a fio. Ele uniu durante décadas todo o Universo Portista, batendo-se desportiva­mente olhos nos olhos com todos aqueles que antes do Porto dominaram o futebol nacional. Pinto da Costa fez crescer o Porto desportiva­mente a um nível internacio­nal, mas o seu discurso nunca deixou de ser regional.

41 anos depois de assumir a Presidênci­a, Pinto da Costa

regressa ao regionalis­mo em estado puro. Fecha-se como uma concha, pede aos que ainda restam que o acompanhem e ataca cada um que discorda de si, sejam eles sócios ou não.

O Presidente de todos passou à condição de Presidente de alguns.

O discurso divisionis­ta que fez no Coliseu foi de um César sem louros.

Ao invés de apresentar soluções para o futuro,

de um plano de recuperaçã­o sólido para o clube, ou de relembrar as suas conquistas desportiva­s, resolveu atacar o seu principal adversário com adjetivaçõ­es rasteiras e graçolas de algibeira. A apresentaç­ão de uma candidatur­a não é uma stand up comedy.

A plateia envergonha­da abrandou nos aplausos

por cada crítica dirigida a André Villas-Boas e Angelino Ferreira (seu ex-treinador e seu ex-Administra­dor Financeiro).

Terão D. Américo Aguiar (que se encontrava divinament­e à distância),

o Ministro da Saúde, Dr. Manuel Pizarro, e o Presidente da Câmara Municipal de Gaia aplaudido tais passagens bíblicas contra aqueles dois sócios? Sérgio Conceição nunca o fez, eu vi.

Terão estes notáveis apoiantes aumentado os decibéis das suas palmas

nas críticas que Pinto da Costa fez à comunicaçã­o social de Lisboa e ao centenário JN? Terão estes Senhores, que ocupam posições de destaque na sociedade, aplaudido a obsessiva luta do FC Porto contra Lisboa?

Este tipo de discurso isola cada vez mais o FC Porto do País e do Mundo.

Curioso é que veio recrutar a essa mesma Lisboa para dirigir a sua campanha o Dr. Cunha Vaz, que durante anos coordenou a comunicaçã­o do Benfica.

Numa altura difícil do Porto,

e quando a PSP iniciou uma ação para “devolver a liberdade de decisão” aos sócios do Porto, aplicando penas de prisão preventiva a conhecidos adeptos por consequênc­ia dos episódios programado­s na impensável Assembleia Geral do Porto, Pinto da Costa optou por uma prosa carregada de labaredas gramaticai­s.

Brincar com o fogo não é bom.

Tenho pena que Pinto da Costa não perceba o que está a acontecer à sua volta. Este seu Porto não é definidame­nte um Porto moderno, plural e de futuro.

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