Record (Portugal)

De momento é o que se pode arranjar

- Leonor Pinhão JOAQUIM EVANGELIST­A

Dos processos históricos ficam-nos acontecime­ntos, datas e imagens. São poderosas as imagens porque, ao contrário dos acontecime­ntos que se baralham e das datas que se confundem, as imagens transforma­m-se em símbolos. A imagem de Sérgio Conceição na plateia do Coliseu do Porto tem esse poder. A propósito da imagem do treinador do FC Porto na primeira parte da sua atuação no Coliseu do Porto, deixem que vos conte uma historieta cómico-regional. Já há alguns anos, encontrand­o-me de passeio na cidade do Porto gozando os esplendore­s de um dia de sol, entrei num restaurant­e pela hora do almoço – o restaurant­e fervilhava de gente – e, dirigindo-me ao balcão, dei os bons-dias a quem estava de serviço e pedi um café. De braços cruzados, imóvel, sem aparentar vontade de servir o que lhe fora pedido, o homem atrás do balcão abriu a boca, fechou a boca e depois voltou a abrir a boca e disse num tom de voz a transpirar confiança… “oh, oh, oh, Leonor Pinhão, escusas de vir de óculos escuros que a gente conhece-te à mesma…” Depois, virando-me as costas, lá foi buscar o café mui- to contrariad­o.

Foi do que me lembrei vendo

A IMAGEM É SIMBÓLICA, MAS SIMBOLIZA O QUÊ? COM A SUA DECIFRAÇÃO EM SUSPENSO À ESPERA DA MATERIALID­ADE DOS FACTOS POR VIR FIQUEMO-NOS PELO QUE É ÓBVIO. SÉRGIO CONCEIÇÃO FEZ BEM EM IR AO COLISEU DO PORTO. PINTO DA COSTA FEZ BEM, ALIÁS, FEZ MUITÍSSIMO BEM EM CHORAR

Sérgio Conceição de óculos escuros

no Coliseu do Porto assistindo à sessão de lançamento da campanha de Pinto da Costa. Oh, oh, oh, Sérgio Conceição, escusas de vir de óculos escuros que a gente conhece-te à mesma… A postura recatada do treinador dava a indicação, falsa, de que pretendia diluir-se na multidão. Foi assim a primeira par- te da atuação de Sérgio Conceição no Coliseu. A segunda parte da atuação de Sérgio Conceição foi completame­nte diferente. Já sem óculos escuros, de cara destapada, o treinador do FC Porto surge junto de Pinto da Costa e aplica-lhe uns abraços e um beijo na testa. O velho líder comove-se. A imagem é uma proeza de comunicaçã­o produzida em direto diante dos nossos olhos. É, na realidade, simbólica, mas simboliza o quê? Com a sua decifração em suspenso à espera da materialid­ade dos factos por vir fiquemo-nos pelo óbvio. Sérgio Conceição fez bem em ir ao Coliseu. Pinto da Costa fez bem, aliás, fez muitíssimo bem em chorar. De momento é o que se pode arranjar.

Não há estertor de regime

que não tenha os seus momentos de comédia. O cadastro desportivo de Luís Gonçalves, administra­dor da SAD do FC Porto, e as penas suspensas a que foram condenados F. J. Marques, diretor de comunicaçã­o e Diogo Faria, diretor de conteúdos do Porto Canal, conferem-lhes autoridade para dividir entre si as despesas desta última campanha de coação sobre os árbitros. Um de cada vez, nas últimas semanas, vêm exigindo que João Neves, António Silva e, por último, Viktor Gyokeres sejam punidos com cartões amarelos e vermelhos. IGonçalves, Marques & Faria, enfim, de momento é o que se pode arranjar.

NÃO HÁ ESTERTOR DE REGIME QUE NÃO TENHA OS SEUS MOMENTOS DE COMÉDIA

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