Obrigado João, nunca te esquecerei
OS PROBLEMAS DA GERAÇÃO DO JOÃO OLIVEIRA PINTO DERAM-ME A CERTEZA DE QUE A EDUCAÇÃO, O APOIO ÀS CARREIRAS DUAIS E A TRANSIÇÃO DE CARREIRA SERIAM A MAIOR PREOCUPAÇÃO DO SINDICATO
O João Oliveira Pinto partiu, em paz com a pessoa maravilhosa que foi neste mundo e com o que aproveitou da vida. Feliz pelos filhos dos quais tanto se orgulhava, de uma companheira que esteve incansavelmente ao seu lado até ao fim e por ter verdadeiros amigos que nunca o abandonaram. A nossa história em comum começa com um pedido do João Vieira Pinto para que o sindicato desse uma oportunidade ao João, que como tantos jogadores da sua geração não estava preparado para a vida depois do futebol e enfrentava um momento de total indefinição. Depois de o conhecer e de lhe dar essa oportunidade, o João retribuiu diariamente em apoio incondicional, disponibi- lidade, uma lealdade sem igual e uma bondade intrínseca, por vezes ingénua, que transmitia o espírito de criança que sempre preservou.
Aquele menino que jogava à bola no Castelo deslumbrou nas camadas jovens do Sporting, atingiu o topo e rivalizou com os melhores da sua gera- ção. Podia ter ambicionado outros patamares no futebol, mas não guardava mágoa do seu percurso que teve tanto de magia e animação dentro de campo, como fora dele.
Os problemas que vi no João e em muitos da sua geração que não pensaram na vida pessoal e profissional depois de pendurar as chuteiras, fez- -me ter a certeza de que a edu- cação, o apoio às carreiras duais e transição de carreira seriam a maior preocupação do sindicato para o futuro. O sistema falhou-lhes brutalmente, apenas se focou naquilo que eles puderam dar dentro de campo e não quis saber do dia seguinte ao último jogo, aquele em que a solidão e ansiedade engolem os que deram tudo pela profissão e pelo país.
Ao falar do João é imperativo lembrar as histórias que contava, por longas horas, sobre as peripécias que viveu com os seus irmãos nas camadas jovens da seleção e daquele Mundial que o colocaria na história do futebol português.
Vou sentir falta de tudo. Daqueles convites para uma caldeirada preparada à moda dos pescadores de Sesimbra, dos momentos em que a equipa do Sindicato se unia entre mais e menos dotados para defrontar qualquer adversário, certos de que com o talento com que foi abençoado, mesmo fora de forma, o João ia resolver.
Os que amamos nunca partem verdadeiramente. Na última tarde que passei com o João, acompanhado do João Vieira Pinto, que tinha com ele uma relação inexplicável de amizade, irmandade e mentoria, fiz a minha despedida na esperança de que este dia não chegasse. Infelizmente não estava nas nossas mãos, só posso agradecer, juntamente com a família, as mensagens de apoio que recebemos nos últimos dias. Até já, ‘baixinho’, dá um grande abraço ao Lucas e olhem por nós que continuaremos a dar tudo o que temos e sabemos pela vossa causa: a dos jogadores.
PODIA TER ATINGIDO OUTROS PATAMARES, MAS NÃO GUARDAVA MÁGOA DO SEU PERCURSO