Record (Portugal)

“MAIS NINGUÉM PODERIA CONTAR ESTA HISTÓRIA”

Com a série documental ‘A Filha de Deus’ já em exibição na ‘HBO Portugal’, Record falou com a pessoa para quem Diego Maradona era, acima de tudo, pai. Um testemunho único sobre uma das maiores figuras da história do futebol.

- VASCO BORGES

Escolheu o título ‘A Filha de Deus’ para a série. Ter Diego Armando Maradona como pai é um estatuto que pesa?

DALMA MARADONA – Na verdade, escolhemos o título como uma completa ironia. E posso explicar. Porque, para mim, Diego Maradona é simplesmen­te... o meu pai. Está muito longe de ser um Deus. Escolhemos o título porque as pessoas lhe colocaram esse apelido, esse estatuto, mas ele dizia sempre: ‘Eu não sou Deus, nem nada que se pareça’. Quisemos marcar essa ironia logo de início, porque um dos objetivos é precisamen­te o de explicar porque é que, para mim, o meu pai não é Deus.

Sente que a história que está a contar é única?

DM - Sim, a minha história com Maradona nunca foi contada. Este documentár­io é sobre a minha visão e não há mais ninguém

“QUANDO VOU A NÁPOLES, HÁ PESSOAS QUE COMEÇAM A CHORAR QUANDO SABEM QUE SOU FILHA DE MARADONA”

no Mundo que tenha tido a mesma experiênci­a que eu. Mais ninguém pode contar esta história. A base foi um trabalho que já tinha feito, com o mesmo título. E percorremo­s tudo. Desde a 'Villa Fiorito', que foi o bairro onde ele nasceu e foi criado em Buenos Aires e onde deu os primeiros pontapés na bola. Passando por Itália, por Nápoles, que foi uma cidade muito significat­iva para a carreira e para a vida do meu pai.

Ⓡ Nápoles é um sítio marcante na carreira e no legado de Maradona. Qual é a sua relação com a cidade?

DM - Amo ir a Nápoles. Sempre que saio do avião e ponho um pé cidade é como se todo esse amor que sentem pelo meu pai me atingisse. É inexplicáv­el. Na Argentina há um certo fanatismo... mas em Nápoles é diferente. As pessoas encontram-me, a mim que não fiz nada, e choram... só por ser filha de Maradona. Dizem-me: ‘Isto não é sobre futebol. Ninguém dava nada por esta cidade e Maradona veio para cá e tornou-se um de nós.’ É um sentimento que persiste até hoje. Ver crianças pequenas, que nunca o viram jogar, a pintar murais dele, a usar camisolas de Maradona. São histórias que lhes são passadas pelos pais e pelos avós.

Ⓡ Mais do que um grande futebolist­a, Maradona é um herói a nível social.

DM - Era visto como um deles. Naquela altura era como se Nápoles nem fosse considerad­a parte de Itália. Mas Maradona fez com que conseguiss­em enfrentar as equipas mais poderosas, o Inter, o Milan, a Juventus. E ao enfrentá-los de igual para igual, ao ganhar-lhes, levou o clube à glória e deixou a cidade no mapa. Era o futebol como representa­ção social.

Ⓡ Como era lidar com o facto de ter tanta gente de olho no que o seu pai fazia?

DM - Ele costumava resmungar comigo... dizia que toda a gente sabia tudo sobre a carreira dele e eu não sabia nada. Tentava contar-me sobre um golo que marcou e eu não queria saber. Ele dizia: ‘Todos são fanáticos por mim, menos a minha filha.’

Ⓡ Com que imagem do seu pai gostaria que ficassem as pessoas que vão ver a série?

DM -O que posso dizer sobre o documentár­io é que as pessoas podem ou não gostar, mas está feito... vem de um sítio de amor absoluto. E acho que nem tem nada a ver com futebol. É o documentár­io de uma filha para o seu pai. Qualquer pessoa que é filha, mãe ou pai, pode identifica­r-se com o que ali está.

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DALMA MARADONA

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