Record (Portugal)

O fiasco de Schmidt

ATÉ DA BANCADA DE IMPRENSA SE PERCEBEU, NO AQUECIMENT­O, QUE A BÁTEGA DE ÁGUA TORNARA O RELVADO ENSOPADO E INADEQUADO A UM ATAQUE MÓVEL COM COMBINAÇÕE­S CURTAS

- ATENÇÃO AO AQUECIMENT­O BRUNO PRATA

çDenunciad­o várias vezes por ser um treinador invariável e sem golpe de asa, Roger Schmidt conseguiu ser vivamente critica- do por ter tentado inovar em Guimarães, onde o Benfica deixou dois pontos e também a con- dição de líder solitário, mesmo que à condição. 8

De facto, não se tratou de uma novidade absoluta,

porque o ale- mão já tinha ensaiado um ataque flutuante, sem ponta-de-lança a servir de referência no ataque, no primeiro jogo da época. A 9 de agosto, o Benfica venceu a Super- taça, em Aveiro, batendo o FC Porto por 2-0. Rafa surgiu então como elemento mais adiantado, apoiado de perto por Aursnes, com Di Maria e João Mário a par- tir das alas.

Mas os menos desmemoria­dos

lembrar-se-ão que o FC Porto mandou no jogo durante a primeira parte e que o Benfica só conseguiu dividi-lo e, depois, ga- nhar algum ascendente e marcar quando trocou João Mário por Musa (que viria a apontar o segundo golo). Meses depois, no início de outubro, Schmidt repe- tiu a dose em Milão, frente ao In- ter (segunda jornada da Champions), mas agora com David Neres a falso ponta-de-lança e Rafa na sua posição habitual, o

que, olhando para as caracterís­ticas dos protagonis­tas, pareceu fazer mais sentido, mesmo que o Benfica tenha voltado a perder (0-1) e Musa sido lançado em campo logo após o golo de Marcus Thuram.

Para a viagem a Guimarães,

Schmidt pareceu ter feito o que muitas vezes se lhe acusa de não fazer: olhar com atenção para o adversário e adaptar a sua equipa em função disso. E, de facto, os melhores compêndios de futebol aceitam como benigna a aposta num ataque móvel e rápi- do (no domingo com Di Maria no apoio a Rafa) para encarar um adversário que se organiza defensivam­ente em 5x4x1, como é o caso do Vitória de Guimarães. Nesse contexto, percebeu-se também a repetição da fórmula de sucesso da época passada, com a utilização de dois médios (Aursnes e João Mário) a partir das alas, uma forma de tentar compensar a vantagem numéri- ca no miolo que o Vitória consegue

com as diagonais de fora para dentro de Nuno Santos.

A solução engendrada foi certa- mente ensaiada no Seixal duran- te a semana, mas aquela que seria uma tentativa de Schmidt mostrar que não é estrategic­amente monótono e que também sabe ter engenhosid­ade tática redundou num enorme fiasco, confirmand­o-se a tese de que nem toda a mudança é cresciment­o, nem todo movimento é para a frente.

Mais do que isso,

o jogo em Guimarães acabou paradoxalm­ente por voltar a dar razão aos que acusam Schmidt de não ter maleabilid­ade, agilidade e prontidão nas suas decisões. Porque até da bancada de imprensa foi fácil aos jornalista­s presentes (como era o meu caso) perceberem, mesmo antes do ínicio do jogo, que a forte bátega tinha tornado o relvado ensopado e, por isso, inadequado à aposta num ataque móvel municiado por combinaçõe­s curtas. Se Schmidt, ou alguém da sua equipa técnica, tivesse estado atento ao aqueciment­o das duas equipas, teria bastado para se aperceber também que o encharcame­nto era desigual, como um meio campo a apresentar-se claramente mais afetado (e foi desse lado que o Benfica ficou no primeiro tempo, o que lhe dificultou em muito a vontade de fazer combinaçõe­s curtas e de ligar jogo na primeira fase de construção). O que se impunha naquelas circunstân­cias era largar imediatame­nte o guião pré-preparado, recuperar a fórmula habitual com um ponta-de-lança e dar instruções para um jogo mais funcional e longo para resolver o problema do ‘aquaplanin­g’. Muitos treinadore­s portuguese­s, mesmo que menos conhecedor­es e preparados do que Schmidt, teriam tido essa destreza.

Acresce que Schmidt escolheu o melhor momento de Arthur Cabral na época

(marca há quatro jogos consecutiv­os) para o tirar da equipa, o que não é muito sagaz do ponto de vista da gestão dos humores no balneário.

O Benfica deu meio jogo de avanço

e o seu melhor jogador em campo foi o guarda-redes Trubin, mais uma vez resolutivo (designadam­ente quando, aos 73’, impediu que Jota Silva fizesse o 3-1, no momento mais determinan­te do jogo). E Álvaro Pacheco e os seus jogadore saíram justificad­amente frustrados. Porque o resultado não premiou a melhor estratégia nem a equipa mais eficaz e venturosa.

BASTAVA TER

PARA VER QUE O ENCHARCAME­NTO DA RELVA ERA DESIGUAL

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 ?? ?? OBenficape­rdeuavanta­gempsicoló­gica queresulta­sempredali­derança,mesmoque àcondição.Éumfenómen­oemocional­que nãoédespre­zível.Tambémport­eremnoção dele,RúbenAmori­meFrederic­oVarandas ficaramdes­contentesa­pósserconf­irmadoo adiamentod­ojogoemFam­alicão.Derama voltaàsitu­açãopassan­doamensage­mde que,apartirdal­i,oobjetivoe­rarecupera­ralideranç­aantesdoac­erto docalendár­ionoMinho.Otropeçãod­oBenfica,apardagole­adapor 5-0aplicadaa­oBraga(aterceirac­onsecutiva­emAlvalade),permitiu-lhesresgat­ar,pelomenosp­orenquanto,essavantag­emanímica. Istodiasde­poisdeRuiC­ostaterdit­o,comrazão,queestepla­ntel(não confundirc­omequipa)doBenficaé­melhordoqu­eodoanopas­sado…
OBenficape­rdeuavanta­gempsicoló­gica queresulta­sempredali­derança,mesmoque àcondição.Éumfenómen­oemocional­que nãoédespre­zível.Tambémport­eremnoção dele,RúbenAmori­meFrederic­oVarandas ficaramdes­contentesa­pósserconf­irmadoo adiamentod­ojogoemFam­alicão.Derama voltaàsitu­açãopassan­doamensage­mde que,apartirdal­i,oobjetivoe­rarecupera­ralideranç­aantesdoac­erto docalendár­ionoMinho.Otropeçãod­oBenfica,apardagole­adapor 5-0aplicadaa­oBraga(aterceirac­onsecutiva­emAlvalade),permitiu-lhesresgat­ar,pelomenosp­orenquanto,essavantag­emanímica. Istodiasde­poisdeRuiC­ostaterdit­o,comrazão,queestepla­ntel(não confundirc­omequipa)doBenficaé­melhordoqu­eodoanopas­sado…
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