O diamante que Rúben está a lapidar
JOGADOR COM ESCOLA ITALIANA, HJULMAND CONTINUA A ESTIMULAR A CONVICÇÃO DE QUE AINDA SÓ VAI A MEIO CAMINHO DO DESTINO TRAÇADO PARA TANTA QUALIDADE: UM LUGAR ENTRE OS MELHORES MÉDIOS DO FUTEBOL EUROPEU
É um jogador estrito mas perfeito para as suas responsabilidades na equipa; pouco imaginativo na criação mas tremendo no desempenho do papel que lhe cabe na organização coletiva; limitado nos recursos criativos mas suficiente para ser garante de segurança e equilíbrio. Hjulmand é a máxima referência de harmonia e poder estratégico do Sporting de Rúben Amorim; conhece todas as regras em vigor nos terrenos que pisa e tem resposta automática para qualquer imprevisto. Intuitivo, quase infalível, na reação a situações de desarrumação estrutural no exército que defende, corta linhas de passe, é fortíssimo nos duelos individuais (posicionamento e tempo de entrada irrepreensíveis) e ainda guarda talento para, recuperando a bola, inverter a energia e dar início ao processo para levar as tensões do jogo para o outro lado do campo.
Onde não chega pela técnica cristalina impõe-se por insistên- cia; quando lhe falta precisão nos gestos e nos movimentos tem sempre uma arma suplementar para retificar as falhas; se a magia está ausente do reportório sem pompa, sobra-lhe solidariedade, dedicação, firmeza e eficácia em todos os despiques. O seu jogo carece de fantasia mas os seus processos simples estão sempre sob controlo: realiza-se despojando o adorno ou qualquer outra manifestação de superficialidade. A abrangência do futebol que exibe permite ter todas as valências exigidas pelo meio-campo leonino, assumindo-se como complemento de quem atua a seu lado: mais recatado e atento nas costas de Pote ou Daniel Bragança, mais livre e expansionista quando tem o apoio de Morita, prova de inteligência e versatilidade, características que o definem.
O dinamarquês é um notável detetor de risco e um excelente avaliador de perigo. Senhor de um domínio tático superior e de um entendimento imaculado do jogo, melhora a riqueza de soluções defensivas com o comportamento implacável, próprio de general concentrado e firme no campo de batalha. Uma atitude que lhe confere indiscutível autoridade perante os companheiros e faz dele um líder tão reconhecido que já tem reservado lugar no lote de capitães de equipa na próxima época.
Numa equipa carregada de talento coletivo e individual, Hjulmand apresenta números pouco expressivos (1 golo e 3 assistências em 29 jogos) para assumir preponderância como elemento decisivo na carreia vitoriosa do Sporting, a melhor equipa portuguesa da temporada. Devemos, porém, fazer toda a justiça na avaliação de estilo, influência e perícia do médio, porque muitas das vitórias leoninas, cujos heróis mais aclamados são Gyökeres, Pote, Edwards, Trincão, Paulinho e Nuno Santos, só são possíveis pela presença e comportamento deste dinamarquês que não trai a causa, está comprometido com os princípios orientadores da cartilha verde e branca, zela pelo bem-estar da comunidade e comove pela disponibilidade com que se entrega à luta. Pode não recolher louros como craque definitivo e universal mas é impossível roubar-lhe mérito na glória de todos.
Com Hjulmand acontece o habitual em jogadores menos reconhecidos por dotes artísticos, logo nem sempre amados pelas bancadas: cumpre todas as funções para que foi contratado e adquire amplitude de ação es- magadora; é ótimo a participar em ações diversificadas (atrás e à frente; no eixo central mas tam- bém à esquerda e à direita), sendo extraordinário que o faça cada vez melhor. Médio com es- cola italiana, que Rúben Amorim está a lapidar segundo as suas ideias e conceitos, Hjulmand continua a estimular a convicção em cada um de nós de que ainda só vai a meio caminho do destino traçado para tanta qualidade: um lugar entre os melhores médios do futebol europeu.
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