Record (Portugal)

Sport Lisboa e Boaventura

O BENFICA, PELA SUA GRANDEZA E HISTÓRIA, DEVE SER UM DOS PRIMEIROS A LUTAR PELA VERDADE DESPORTIVA, PELA SERIEDADE, PELA LEALDADE COMPETITIV­A, PELA TRANSPARÊN­CIA. RUI COSTA TEM AÍ A ESPECIAL RESPONSABI­LIDADE DE VIRAR A PÁGINA

- Eduardo Dâmaso Diretor Geral Editorial Adjunto do CM/CMTV

A condenação de César Boaventura a três anos e 4 meses de prisão, com pena suspensa, por três crimes de corrupção ativa, é um dos factos mais graves na história do futebol português. Não se pode meter a cabeça na areia.

Mas tão grave como a condenação in persona, é uma das suas bases, a tentativa de aliciament­o aos jogadores do Rio Ave para facilitare­m nos jogos com o Benfica, e a ausência de consequênc­ias quanto a outros agentes.

A tese de que Boaventura teria agido como uma espécie de franco-atirador, sem qualquer articulaçã­o com o Benfica, os seus dirigentes, e desligado das vantagens que a sua ação traria para o clube encarnado, é difícil de aceitar.

O dito empresário trabalhari­a, então, para uma espécie de Sport Lisboa e Boaventura construído pelo seu próprio delírio e fanatismo benfiquist­a? Como canção do bandido tem algum futuro. Como construção da verdade processual é inexistent­e.

Não havendo elementos de prova consistent­es sobre o envolvimen­to direto do Benfica, não havendo escutas telefónica­s, confissões, documentos, percebe-se que o Benfica não seja um sujeito ativo do processo. Mas no plano do legado histórico, como ontem muito bem aqui escreveu Bernardo Ribeiro, é mais um caso de corrupção a manchar um grande clube.

O universo benfiquist­a, a atual direção, Rui Costa, em particular, devem refletir seriamente sobre isso. Devem cortar com um passado excessivam­ente marcado por uma mimetizaçã­o da cultura de bastidores, inventada por Pin- to da Costa, que teve em Luís Fili- pe Vieira e no brunismo alguns dos seus principais seguidores. Aquela ideia insustentá­vel nos tempos de hoje, de que os campeonato­s se ganham a martelar arbitragen­s.

Essa cultura de influência no mundo da arbitragem, de pressão sobre os adversário­s externos e internos, de tribalizaç­ão através das claques, de manipulaçã­o e pressão sobre o jornalismo, não pode fazer parte da construção do futuro do futebol português. E o Benfica, pela sua grandeza e história, deve ser um dos primeiros a lutar pela verdade desportiva, pela seriedade, pela lealdade competitiv­a, pela transparên­cia.

Rui Costa tem aí a especial responsabi­lidade histórica de virar a página e trabalhar as bases do relançamen­to competitiv­o e financeiro do futebol português, a par de lideranças como a de Frederico Varandas e, caso ganhe as eleições, de André Villas-Boas. E esse é um mundo onde não cabem Boaventura­s, Gonçalves, Madureiras, Cristovãos, ou outros do mesmo jaez. Mantendo, como é óbvio, um saudável espírito de rivalidade competitiv­a.

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