Sport Lisboa e Boaventura
O BENFICA, PELA SUA GRANDEZA E HISTÓRIA, DEVE SER UM DOS PRIMEIROS A LUTAR PELA VERDADE DESPORTIVA, PELA SERIEDADE, PELA LEALDADE COMPETITIVA, PELA TRANSPARÊNCIA. RUI COSTA TEM AÍ A ESPECIAL RESPONSABILIDADE DE VIRAR A PÁGINA
A condenação de César Boaventura a três anos e 4 meses de prisão, com pena suspensa, por três crimes de corrupção ativa, é um dos factos mais graves na história do futebol português. Não se pode meter a cabeça na areia.
Mas tão grave como a condenação in persona, é uma das suas bases, a tentativa de aliciamento aos jogadores do Rio Ave para facilitarem nos jogos com o Benfica, e a ausência de consequências quanto a outros agentes.
A tese de que Boaventura teria agido como uma espécie de franco-atirador, sem qualquer articulação com o Benfica, os seus dirigentes, e desligado das vantagens que a sua ação traria para o clube encarnado, é difícil de aceitar.
O dito empresário trabalharia, então, para uma espécie de Sport Lisboa e Boaventura construído pelo seu próprio delírio e fanatismo benfiquista? Como canção do bandido tem algum futuro. Como construção da verdade processual é inexistente.
Não havendo elementos de prova consistentes sobre o envolvimento direto do Benfica, não havendo escutas telefónicas, confissões, documentos, percebe-se que o Benfica não seja um sujeito ativo do processo. Mas no plano do legado histórico, como ontem muito bem aqui escreveu Bernardo Ribeiro, é mais um caso de corrupção a manchar um grande clube.
O universo benfiquista, a atual direção, Rui Costa, em particular, devem refletir seriamente sobre isso. Devem cortar com um passado excessivamente marcado por uma mimetização da cultura de bastidores, inventada por Pin- to da Costa, que teve em Luís Fili- pe Vieira e no brunismo alguns dos seus principais seguidores. Aquela ideia insustentável nos tempos de hoje, de que os campeonatos se ganham a martelar arbitragens.
Essa cultura de influência no mundo da arbitragem, de pressão sobre os adversários externos e internos, de tribalização através das claques, de manipulação e pressão sobre o jornalismo, não pode fazer parte da construção do futuro do futebol português. E o Benfica, pela sua grandeza e história, deve ser um dos primeiros a lutar pela verdade desportiva, pela seriedade, pela lealdade competitiva, pela transparência.
Rui Costa tem aí a especial responsabilidade histórica de virar a página e trabalhar as bases do relançamento competitivo e financeiro do futebol português, a par de lideranças como a de Frederico Varandas e, caso ganhe as eleições, de André Villas-Boas. E esse é um mundo onde não cabem Boaventuras, Gonçalves, Madureiras, Cristovãos, ou outros do mesmo jaez. Mantendo, como é óbvio, um saudável espírito de rivalidade competitiva.