Record (Portugal)

Os benefícios da implosão

É POR DENTRO QUE OS IMPÉRIOS CAEM INDEPENDEN­TEMENTE DO TAMANHO DE CADA UM. A ÚNICA COISA QUE VARIA, EM FUNÇÃO DO TAMANHO, É O VOLUME DO ESTRONDO QUE FAZEM AO CAIR

- Leonor Pinhão

Vem decorrendo uma alteração geracional nas cúpulas dos três maiores clubes nacionais. É normal, o tempo passa. Decorre, paralelame­n- te, uma transforma­ção social nas suas cúpulas. E esta é uma grande notícia. Um ex-jogador é atualmente presidente do Benfica, um médico é hoje presidente do Sporting e um ex-treinador arrisca-se a ser presidente do FC Porto na próxima primavera. Como chegaram Rui Costa, Frederico Varandas e André Villas-Boas às posições em que estão? Por implosão.

Uma implosão é o desmoronam­ento de uma estrutura

provocado pelo colapso do seu centro. Foi isso que aconteceu no Sporting em maio de 2108 com o ataque da claque a Alcochete, que aconteceri­a no Benfica com a detenção de Luís Filipe Vieira em julho de 2022 e que está a acontecer no FC Porto depois dos ataques da claque na assembleia geral do clube e nas ruas da cidade em novembro de 2023. Situações gravíssima­s que originaram ruturas de regime de grande espetacula­ridade sendo que duas delas, no Sporting e no FC Porto, foram causadas pelo comportame­nto das claques oficiais dos dois clubes.

Quanto ao Benfica foi a detenção de Luís Filipe Vieira, no âmbito da Operação Cartão Vermelho, que provocou internamen­te a convulsão que levaria à “nomeação” instantâne­a de Rui Costa como presidente do clube perante, certamente, a estupefaçã­o do ex-presidente. Nem a imensidão de créditos de Vieira no Benfica o salvou da purga. Nos grandes momentos de crise dos grandes clubes desponta, por fim, a massa crítica que, por norma, anda mais entretida com a discussão de penáltis do que com aquilo que é matéria essencial – a honra – na definição de um emblema. Bruno de Carvalho caiu mais cedo do que Luís Filipe Vieira porque para a maioria dos adeptos do Sporting Alcochete acabou com os créditos presidenci­ais e Pinto da Costa poderá cair em abril se a maioria do universo azul e branco reagir como reagiram os polícias e os juízes que, na qualidade de sócios do FC Porto, pretendera­m participar na assembleia de novembro e de lá saíram mais do que incomodado­s perante a coação e a violência em exibição. É por dentro que os impérios caem independen­temente do tamanho de cada império. A única coisa que varia, em função do tamanho, é o volume do estrondo que fazem ao cair.

Rui Costa, Frederico Varandas e, se for eleito, André Villas-Boas

têm grandes responsabi­lidades pela frente. A condenação por corrupção ativa do agente – mas agente de quê? – César Boaventura – é um momento detestável na História do Benfica. Ainda que o Benfica tenha, artisticam­ente, escapado ileso do processo judicial não escapa ileso aos danos de reputação. Cabe aos adeptos e aos presidente­s fazer por não esquecer nem pretender apagar os momentos detestávei­s das suas respetivas Histórias. Grande tarefa.

A CONDENAÇÃO DE BOAVENTURA É UM MOMENTO DETESTÁVEL

NA HISTÓRIA DO BENFICA

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal