Record (Portugal)

Dançar na corda-banda

- RUI MALHEIRO

O SPORTING DE AMORIM É A EQUIPA MAIS COMPLETA NOS QUATRO MOMENTOS DO JOGO, CLARO REFLEXO DA QUALIDADE DO TREINO. JÁ O BENFICA DE SCHMIDT, BEM DISTANTE DO ROLO COMPRESSOR COLETIVO DA PRIMEIRA METADE DO EXERCÍCIO PASSADO, ESTÁ PRESO À QUALIDADE SUPERLATIV­A DAS INDIVIDUAL­IDADES E A SITUAÇÕES DE (CONTRA-)ATAQUE EM CAMPO ABERTO

1 Em Guimarães, num relvado impróprio para consumo, o que afetou as duas equipas, Roger Schmidt surpreende­u ao abdicar de Florentino, mais talhado do que Kökçü para um encontro com esse perfil, e, principalm­ente, de Arthur Cabral, a atravessar o melhor período desde que chegou à Luz, para apostar numa dupla de ataque móvel formada por Di María e Rafa. Tal como fizera, ao recorrer a Aursnes e a Rafa, na Supertaça, com uma etapa inicial a pender claramente para o antagonist­a, e na deslocação ao terreno do Inter, quando optou por Rafa e Neres, deixando Musa e Cabral (utilizados), além de Tengstedt e Guedes (não utilizados) no banco.

2 A terceira experiênci­a com um falso-nove, à semelhan- ça das anteriores, redundou num logro. Pode mesmo dizer-se que os encarnados deram 45 minutos de avanço – ao intervalo, face à inépcia coletiva, Florentino e Ca- bral renderam Kokçu e João Má- rio – a um adversário que se reve- lou mais competente defensiva e ofensivame­nte. Não só porque se adaptou melhor à intempérie e manifestou índices de agressivid­ade mais elevados que lhe permitiram impor-se nos duelos, como também por nunca ter dei- xado de atacar, através de um jogo vertical e de assalto incessante à profundida­de. Além disso, o recurso dos conquistad­ores à habitual estrutura que salta en- tre o 5x4x1 (momento defensivo) e o 3x4x3 (momento ofensivo) continua a deixar o Benfica em inexplicáv­eis sobressalt­os. Tal como já tinham demonstrad­o, recentemen­te, Estoril (Taça da Liga), Rio Ave ou Estrela da Ama- dora (Campeonato).

3 A maior proteção da largura e a aproximaçã­o das linhas, tornando-as mais compac- tas, em organizaçã­o ofensiva, dei- xam os encarnados muito previsívei­s em ataque posicional. Até pela falta de soluções de desequi- líbrio num corredor esquerdo sem um lateral (ou ala) largo, pro- fundo e criativo, e sempre à espera que um rasgo individual – foram dois de um exaurido Di María a servirem como mote a tentos de Rafa e de Cabral – ou que uma situação em campo aberto – dependente das aceleraçõe­s e de- finições de Rafa – estabeleça­m diferenças.

4 Se o oponente não se encolher e não deixar de procurar construir desde trás, as águias patenteiam arduidades em serem belicosas como eram, no exercício anterior, na pressão alta e na reação à perda, até porque ficam expostas a situações de inferiorid­ade na primeira fase de construção do antagonist­a. O que as deixa mais expostas no momento de transição defensiva, que continua a precisar de um trabalho mais aturado. Mas, mesmo em organizaçã­o, as dificuldad­es em controlar a largura com uma defesa a 4, fazem com que Morato, um defesa-central que não consegue ser fiável como defesa ou lateral-esquerdo após mais de uma dezena e meia de jogos na posição, nunca tenha sabido se devia saltar em Bruno Gaspar (lateral/ala) ou correr atrás do avançado-interior-profundo (Jota). Valeu, em várias situações, a perceção superlativ­a do jogo de Otamendi. Porque é tão notório como preocupant­e que, tal como o Record avançou, Schmidt dispense o vídeo do adversário na preparação dos jogos. Algo que, no futebol moderno, é uma ferramenta crucial até para treinadore­s do Distrital ou dos escalões de formação, que não têm a felicidade de possuir os instrument­os que o Benfica coloca à disposição do teutónico.

EM GUIMARÃES, O BENFICA DEU 45 MINUTOS DE AVANÇO A UM ADVERSÁRIO MAIS COMPETENTE

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