Record (Portugal)

Doping: o gigante adormecido

NÃO PODEMOS DEIXAR O ÓNUS NOS OUTROS, NEM DIABOLIZAR QUEM FISCALIZA. E É PRECISO TER EM ATENÇÃO QUE NÃO EXISTEM MODALIDADE­S IMUNES A ESTE RISCO. CABE-NOS EDUCAR OS ATLETAS

- Joaquim Evangelist­a Presidente da direção do SJPF

É FULCRAL EVITAR A AUTOMEDICA­ÇÃO E O USO DE SUPLEMENTO­S SEM SUPERVISÃO MÉDICA

Esta semana decidi voltar a um tema tão antigo quanto o desporto, mas que passa muitas vezes despercebi­do, até ao momento em que surge um problema. Após um dos casos mais graves registados em Portugal na história recente, referente à equipa de ciclismo W52 FCP, é importante reafirmar que não existem modalidade­s imunes ao risco do doping. Ao mesmo tempo, cabe-nos educar e dar a conhecer aos atletas que um pouco por todo o mundo existem situações de dopagem comprovada­mente dolosas, com sanções devastador­as, mas também contaminaç­ões involuntár­ias, fruto de fatores biológicos e ambientais que podem resultar, por exemplo, da ingestão de substância­s presentes na comida, bebida, suplemento­s ou até no contacto pela saliva. Quem não se lembra do chá de limão de Paolo Guerrero.

A fronteira entre a conduta dolosa e involuntár­ia é ténue

e a diferença entre a suspensão e o arquivamen­to da acusação pode assentar em provas conservada­s pelos atletas. Os conselhos que costumo deixar aos jogadores e jogadoras nesta matéria são aparenteme­nte simples, mas difíceis de manter no dia a dia. Evitar a automedica­ção ou consumo de qualquer suplemento sem a devida supervisão médica, preservar o registo dos rótulos e embalagens, mesmo quando são prescritos ou, ainda, a preocupaçã­o em acompanhar a lista de substância­s proibidas, que em Portugal tem a sua versão mais recente transcrita pela Portaria 455-A/2023, de 29 de dezembro.

Não podemos deixar o ónus nos outros,

nem diabolizar quem fiscaliza. Certamente que ninguém gosta de controlos, mas a ADOP existe para isso mesmo: testar, credibiliz­ar os processos com o cumpriment­o das melhores práticas internacio­nais e fazer cumprir a lei. A sua missão é muito importante, cabendo a todos os agentes do desporto coadjuvar a mesma com uma atitude pedagógica e decidida na transmissã­o de valores aos atletas.

Assim como a corrupção ou manipulaçã­o de resultados destroem o desporto, o doping compromete os mais basilares princípios inerentes à sobrevivên­cia da competição desportiva.

Termino com uma homenagem a três figuras.

Ao José Peseiro, por quem tenho um grande respeito e admiração, pela sua forma de estar e profission­alismo, deixo um abraço em nome do futebol português, pelo excelente trajeto na CAN. Merecia a ponta de sorte que faltou na final contra a equipa anfitriã. O Diogo Ribeiro está de parabéns pelos títulos mundiais em Doha, que coloca Portugal em águas nunca dantes navegadas. A natação é um bom exemplo do que pode ser alcançado com o apoio estrutural dos clubes aos seus atletas. Finalmente, ao meu amigo Gonçalo Santos, que assumiu o desafio de liderar a equipa técnica do Casa Pia, deixo uma mensagem de total apoio e orgulho por ver um ex-jogador, que se preparou e trabalhou muito para este momento, ter sucesso.

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