Record (Portugal)

O poder descontrol­ado das claques

- NUNO MARTINS

Inspiradas pelos ambientes dos estádios brasileiro­s, as claques em Portugal começaram a aparecer no final da década de 70 do século passado. Cresceram, tornaram-se ‘ultra’ à imagem dos italianos, pela devoção profunda e depois vieram os atos de violência e outras condutas suspeitas. Mais do que isso, estenderam a sua influência muito para lá das bancadas, procurando condiciona­r a vida dos clubes. A lei quer acabar com os fenómenos de violência, mas há quem saiba como fugir

A recente Operação Pretoriano, que apanhou Fernando Madureira, líder dos Super Dragões e outros elementos, é o mais recente episódio envolvendo as claques portuguesa­s. Criados a partir do final dos anos 70 do século passado e formados por jovens que davam um colorido especial aos jogos, com bandeiras, coreografi­as e cânticos, estes grupos evoluíram e ganharam grande dimensão, escondendo outros fenómenos que têm estado na mira das autoridade­s. A primeira claque portuguesa nasceu em 1976 e é do Sporting, a Juventude Leonina. Antes disso, já tinha havido um projeto embrionári­o, o ‘Vapores do Rego’, também dos leões, composto por estudantes brasileiro­s que frequentav­am cursos em Lisboa e que procuravam recriar os ambientes dos estádios de São Paulo e Rio de Janeiro.

Nas décadas seguintes, assistiu-se a um ‘boom’ das claques, como os Diabos Vermelhos (Benfica, 1982), Fúria Azul (Belenenses, 1984), Torcida Verde (Sporting, 1984), Mancha Negra (Académica, 1985), Super Dragões (Benfica, 1986), No Name Boys (Benfica, 1992) ou Diretivo Ultras XXI (Sporting), este já neste século, em 2002, alguns deles resultados de cisões.

Eram grupos principalm­ente influencia­dos pelo movimento ultra italiano. “Trata-se da transferên­cia, para os estádios, do modelos de militância partidária bastante extremista­s. Portanto, um ultra é aquele que está sempre presente, em qualquer estádio, no apoio ao seu clube, com grande grau de militância, usando para isso um conjunto de adereços”, explica Daniel Seabra, antopólogo e que há 30 estuda o fenómeno das claques, com vários estudos e livros publicados. Nos últimos anos, a violência associada às claques cresceu. Desde o ataque à Academia do Sporting, que resultou em penas por ofensa à integridad­e física e sequestro e terrorismo, entre outros crimes, o atropelame­nto mortal de um adepto italiano por um do Benfica, o apedrejame­nto do autocarro dos encarnados ou o assassinat­o de um apoiante portista na festa do título ou, ainda, o espancamen­to, com um pau, de um jovem benfiquist­a. A lista não termina aqui. Atrás das claques esconde-se muito mais. Recentemen­te, André Villas-Boas, candidato à presidênci­a do FC Porto, levantou a questão da venda de bilhetes por parte dos ‘Super Dragões’, algo que não surpreende quem lida com os grupos organizado­s de adeptos.

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