Record (Portugal)

A ameaça dos novos hooligans

São cada vez mais jovens aqueles que aderem a um movimento que tem como intuito espalhar a violência. Andam sem adereços dos clubes, confundido as forças de segurança

- ESTILO CASUAL É PREOCUPAÇíO NUNO MARTINS

Chamam-lhes os novos hooligans. São aqueles adeptos que aparecem não identifica­dos, com o propósito de entrar em confrontos físicos com os apoiantes rivais. São designados de ‘casuals’, um movimento cujos novos aderentes são cada mais jovens.

Uma das últimas imagens mais marcantes verificou-se em San Sebastián, em novembro passado, antes do encontro entre a Real Sociedad e o Benfica, para a Liga dos Campeões. Confrontos violentos entre apoiantes das duas equipas, cerca de uma hora antes do início do jogo, levaram à detenção de quatro pessoas, entre os 21 e os 42 anos, uma afeta ao emblema basco e três às águias.

Ainda há dias ficou a saber-se que Fernando Madureira e Hugo Polaco, dois dos arguidos que estão em prisão preventiva na sequência da Operação Pretoriano, vão a julgamento devido a um caso de violência registado a 7 de abril de 2018. No total, são nove arguidos, todos dos Super Dragões, acusados pelo Ministério Público de um ataque concertado a adeptos do Benfica antes do clássico de hóquei em patins, para a Liga Europeia.

Esta nova ameaça preocupa as autoridade­s. “As discussões com os peritos internacio­nais revelam um panorama com preocupaçõ­es crescentes em toda a Europa, com sintomas de ressurgime­nto do hooliganis­mo, a par da influência da subcultura casual, sobretudo após o período de confinamen­to. Estamos em crer que esta tendência europeia, já visível em vários outros países após o regresso dos adeptos aos estádios após o período pandémico, poderá influencia­r o contexto nacional”, sublinhou o presidente da Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD), Rodrigo Cavaleiro, numa mensagem publicada no último Relatório de Análise da Violência associada ao Desporto (RAViD).

O patrocínio da lei

Daniel Seabra, coordenado­r científico do Observatór­io da Violência Associada ao Desporto (ObVD), tem alertado para este movimento. “O dinamismo do fenómeno é tal que começa a ser muito incerto e especulati­vo caracteriz­ar este tipo de grupos. Já se fala até - é apenas uma hipótese de trabalho a que estou muito atento - de alguns perderem o interesse no estilo casual e assumirem claramente numa vertente de hooliganis­mo, procurando o envolvimen­to em violência. E, sim, são elementos de todas as classes sociais”, sublinha. Estudioso do fenómeno das claques há 30 anos, o professor universitá­rio refere que já se fala num “estilo pós-casual, sem que se possa identifica­r uma marca de roupa”. Até agora, os casual caracteriz­am-se por “andarem vestidos de preto, com roupas de marca e sem adereços dos seus clubes”.

Daniel Seabra chama ainda a atenção para outra alteração neste “estilo”. “Numa primeira fase, de cresciment­o, eram elementos vindos das claques, com profissões valorizada­s, que não estavam para se sujeitar a controlo policial. Eram elementos mais velhos, que conheciam muito bem as claques e os movimentos ultra. Hoje, têm conseguido captar jovens de 18., 19, 20 anos, que já não passam pelas claques.” Os especialis­tas contactado­s pelo nosso jornal acreditam que o apertar da malha legislativ­a contribui para esta fenómeno. “Este conjunto de ditames tende a gerar desconfort­o e contribui para uma derivação para o estilo casual”, advoga Daniel Seabra, numa opinião partilhada com alguém que tem lidado de perto com as claques mas que prefere o anonimato. “A própria lei patrocinou o cresciment­os dos ‘casuals’. E isto é pior para a polícia conseguir monitorizá-los, até mesmo na cidade, porque acontecem episódios de violência longe do estádio”, frisa, acrescenta­ndo: “Queremos festa no futebol, mas proibimos o adepto normal de entrar com bandeiras. A grande maioria não é violenta e estamos a afastar os adeptos normais do futebol.”

O PRESIDENTE DA APCVD, RODRIGO CAVALEIRO, ADMITE QUE HÁ “PREOCUPAÇÕ­ES CRESCENTES” NA EUROPA

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 ?? ?? FACTO. Uso e porte de pirotecnia é a infração mais registada
FACTO. Uso e porte de pirotecnia é a infração mais registada

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