Quando o medo chega às eleições
A Operação Pretoriano, que abalou o FC Porto, investiga suspeitas de crimes de ofensas corporais, danos, coação e ameaça, todos eles referentes aos incidentes na assembleia geral dos dragões, a 13 de novembro passado. As imagens dessa reunião magna foram vistas por todo o país e o Ministério Público sustenta que os Super Dragões pretenderam “criar um clima de intimidação e medo” para que fossem aprovadas as alterações estatutárias, em período eleitoral.
Nas buscas, como informou a PSP, foram apreendidos equipamentos eletrónicos e documentos de interesse para a investigação, vários tipos de estupefacientes, nomeadamente cocaína e haxixe, três automóveis, vários milhares de euros, uma arma de fogo, artefactos pirotécnicos e mais de uma centena de ingressos para eventos desportivos. Nada que surpreenda quem está por dentro do fenómeno e que, mantendo anonimato, se refere às listagens dos membros dos SD como “palha para burro”. Fundada em 1986, é uma das 19 claques em Portugal e a que mais elementos tem: 4.000. “As listagens dos Super Dragões não batiam certo com os elementos da linha dura deles e dos prevaricadores. A polícia percebeu que não batia certo quando ia às casas da claque e aparecia alguém a dizer que o filho ou o neto é que pertenciam à mesma”, conta quem tem lidado de perto com estes grupos e as autoridades.
A questão dos bilhetes levantada por Villas-Boas também não surpreende a mesma fonte. “O principal meio de financiamento daquele grupo sempre foi os bilhetes. Toda a gente sabe que na bancada sul do Estádio do Dragão os bilhetes eram entregues àquela malta, alimentando outro tipo de indústria”. sublinha. No Sporting, a direção de Frederico Varandas entrou em rutura com as claques quando acabou com privilégios. Hoje, apenas a Brigada, com 179 elementos, tem estatuto regularizado. No Benfica, muito antes da lei de 2022 entrar em vigor, tentou-se legalizar as duas claques, o que não se conseguiu, por inexistência de um líder dos No Name Boys. Os Diabos Vermelhos, conta quem esteve por dentro, não avançaram com a legalização para evitar confrontos com a outra claque. “Nos jogos fora, em que partilhavam a bancada, havia mocada entre eles por causa dos bilhetes. Hoje, os Diabos ficam num canto e os No Name no resto da bancada”, assegura. A nova lei prevê pena de prisão entre 1 e 3 anos a quem apoiar claques ilegais.
“NA BANCADA SUL DO DRAGÃO OS BILHETES ERAM ENTREGUES ÀQUELA MALTA. TODA A GENTE SABE”, DIZ FONTE ANÓNIMA