Em suspenso

Visto os autos e ouvidas testemunhas e os declarantes, ele, Senhor Doutor Juiz, condenou o arguido César Boaventura a três anos e quatro meses com pena suspensa por três tentativas de crime de corrupção desportiva. Ausente nos autos, porque o juiz de instrução não encontrou, a montante, indícios que o incriminassem (uma procuração a favor de Boaventura, um escrito ou uma escuta a encomendar-lhe o serviço), o Benfica ficou apenas com a sua honra suspensa e dependente da boa vontade de quem quiser acreditar que há adeptos tão generosos como Boaventura ou dirigentes tão idiotas que, quando querem corromper árbitros ou adversários, encarregam-se do assunto pessoalmente. Também em suspenso ficou o Conselho de Disciplina da FPF, ‘tolhido’ pela incapacidade de fazer a prova que, dizem, o próprio Ministério Público não conseguiu fazer, preferindo antes prosseguir com a sua dedicação plena à jurisprudência do delito de opinião - matéria em que não precisa de prova, apenas de opinião. Também a decorrer na justiça está o julgamento em que o ex-treinador da equipa de ciclismo da W52-FC Porto responde por doping dos seus atletas. E também ausentes estão os dirigentes da W52 e do FC Porto que, aliás, já abandonaram a actividade - e cuja responsabilidade seria mais difícil de provar, numa modalidade em que há uma coisa a passar-se na estrada e outra nos hotéis das equipas à noite. Infelizmente e desde há muitos anos, o ciclismo, uma modalidade espectacular, é também um desporto estruturalmente viciado de há muito. Ainda me lembro de ler uma entrevista ao nosso grande Joaquim Agostinho, feito pelo seu admirador e jornalista Carlos Miranda, para ‘A Bola’. Agostinho já tinha sido apanhado em dois controlos positivos de doping e impunha-se a pergunta sobre isso. Resposta: “É claro que é falso. Mas se alguém pensa que se consegue subir o Alp d’Huéz só com bife grelhado e Eau de Évian é muito ingénuo.”