Record (Portugal)

Galeno e o rei Artur Jorge

É CRISTALINO QUE OS DRAGÕES SE SENTEM COMO PEIXES GRAÚDOS E COMBATIVOS NO LAGO DOS TUBARÕES DA CHAMPIONS. E TUDO COMEÇOU COM O BAILADO DE VIENA SOB A LIDERANÇA DE ARTUR JORGE EM 1987

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o LEONOR PINHÃO RUI MALHEIRO

Escrevo antes dos jogos da Liga Europa, onde uma não passagem à próxima eliminatór­ia de Sporting e Benfica seria verdadeira­mente uma tragédia. Sendo que as águias deviam ter resolvido o assunto com o Toulouse sem contemplaç­ões na Luz. Quanto ao Braga, aguarda-se um milagre uma vez que - como vaticinei no início da temporada- é evidente que o sector defensivo não está ao nível da catadupa de futebol ofensivo que Artur Jorge construiu. A saída do melhor defesa bracarense, Tormena, não foi devidament­e compensada e cabe planear o ano seguinte com o objectivo de adquirir duas torres de topo, pois Fonte, Niakaté, Paulo Oliveira e Serdar metem muita água por todos os lados o que compromete os desígnios que António Salvador sonha concretiza­r.

Logo, a estrela da semana só pode ser Galeno que com um golo fabuloso deixa o FC Porto a sonhar passar aos quartos-de-final da prova mais importante de clubes. Sérgio Conceição armou bem a equipa, jogou compacto para evitar a gulosa máquina do Arsenal a funcionar que já leva 58 golos na Premier League e deixou à beira de um ataque de nervos o histriónic­o Mikel Arteta. É cristalino que, sem serem favas contadas, os dragões se sentem como peixes graúdos e combativos no lago dos tubarões que é a Champions.

E é logo no dia seguinte a uma alegria nortenha que parte o primeiro português a conquistar uma Taça dos Clubes Campeões Europeus, exactament­e o homem que liderou o bailado azul e branco em Viena frente ao Bayern, em 1987, sob as estonteant­es fintas de Paulo Futre e a magia do calcanhar de Madjer, oferecendo um dos títulos mais importante­s da saga conduzida por Pinto da Costa.

Morreu o rei Artur Jorge aos 78 anos. Um treinador inovador na sua época, que tirava o som da televisão e fazia acompanhar o espectácul­o por música clássica, que deleitava com a poesia e cultura com que pontuava algumas das suas conferênci­as de imprensa. Os portistas têm para mim quatro treinadore­s (para lá de outros grandes técnicos como Bobby Robson) que ficam indelevelm­ente associados aos últimos quarenta anos de sucessos: José Maria Pedroto, Artur Jorge, José Mourinho e Sérgio Conceição. O futebol português deve curvar-se à memória de um grande senhor. Que descanse em paz Artur Jorge.

* Texto escrito com a antiga ortografia

SÉRGIO CONCEIÇÃO ARMOU BEM A EQUIPA, JOGOU COMPACTO E DEIXOU ARTETA NERVOSO

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