A masterclass estratégica de Conceição
SÉRGIO E SUA EQUIPA FIZERAM ANÁLISE EXAUSTIVA DAS MAIS E DAS MENOS-VALIAS DO OPONENTE
SÉRGIO CONCEIÇÃO FOI BRILHANTE A TRAVAR AS MAIS-VALIAS DO ARSENAL, QUE CHEGOU AO DRAGÃO COM UM RETUMBANTE REGISTO GOLEADOR E FINDOU A PARTIDA SEM REMATES ENQUADRADOS. POR TOTAL MÉRITO DO PENSAMENTO ESTRATRÉGICO-DEFENSIVO DOS AZUIS-E-BRANCOS, O QUE NÃO OS IMPEDIU DE CHEGAREM AO TRIUNFO NUMA FINALIZAÇÃO SOBERBA DE GALENO
1 Na conferência de imprensa prévia à receção ao Arsenal, Sérgio Conceição teceu largos encómios ao rival, considerando justamente os gunners como o oponente capaz de criar mais arduidades aos dragões. Sem papas na língua, definiu os comandados de Arteta como uma equipa fortíssima nos diferentes momentos do jogo e com talento em doses incomensuráveis. O que lhes permite serem capazes de ter bola em organização ofensiva em posse alta, e propriedades para acelerar o jogo sobre as alas e estabelecer diferenças no um contra um, assentido-lhes o assalto com contundência ao último terço e a zonas de finalização. Além disso, Conceição não ocultou que estudou também com minúcia os lances de bola parada, admitindo que os contrários eram muito fortes nos ofensivos – extremamente bem preparados, até pela perceção da necessidade de bloqueios que seriam transformados em faltas ‘ofensivas’ –, mas sofriam golos nos defensivos.
2 Mais uma vez, o treinador conimbricence e a sua equipa técnica, num aspeto que os diferencia, preocuparam-se em fazer uma análise exaustiva das mais e das menos-valias do oponente. Pode dizer-se que Conceição interpretou com primor a formação de Arteta, produzindo os ajustes estratégicos que permitissem suster as mais-valias e, mesmo que mais pontualmente, procurassem perscrutar as menos-valias, com Galeno em evidência. O que conduziu a uma sessão de vídeo mais longa e minuciosa, sabendo que o tempo em campo é mais ou menos o mesmo do que em partidas distanciadas por 3-4 dias.
3 Era inevitável que a principal preocupação dos dragões se centrasse em travar o po- deroso processo ofensivo do Arsenal, que, desde os instantes ini- ciais, quis tomar conta do jogo, procurando metamorfosear o 4x3x3 em 3x2x5. Conceição foi arrojado. Dispôs o FC Porto, em momento defensivo, num 4x1x4x1, preocupando-se, principalmente, em forçar grandes estorvos na ligação entre a construção e a criação dos londrinos, fechando-lhes o acesso às entrelinhas no corredor central. Para isso, contribuiu o posicionamen- to alto da sua linha defensiva, composta por João Mário, Pepe, Otávio (que diferença em relação a Fábio Cardoso no que concerne ao conforto em defender alto e a recorrer ao passe mesmo sob pressão) e Wendell, que nunca se afundou na sua área, e encurtou ao máximo o espaço para a linha de médios. Assim, tornou árduo o acesso às entrelinhas, a imposição da mobilidade abrasiva, e as combinações a alta-velocidade no último terço, pontos em que os gunners se diferenciam. O que afiançou a criação de um bloco coriáceo, compacto e belicoso, onde o papel dos médios se revelou deliberativo para ser impenetrável.
4 Se a exibição de Alan Varela, o médio mais recuado, roçou o superlativo, tanto a defender grandes espaços e a impor-se nos duelos, como a colocar os portistas a jogar em diferentes fases, pela segurança evidenciada no passe, o acasalamento perfeito entre interior-ala no centro-esquerda (Nico e Galeno) e no centro-direita (Pepê e Chico) foi crucial para minimizar as ligações apoiadas pelo corredor central, travando o acesso às entrelinhas. O que obrigou o Arsenal a buscar os corredores laterais através de passes longos, com Martinelli, bem apertado por João Mário, a revelar-se muito desinspirado, ou um jogo mais direto, aspeto em que se sentem desconfortáveis. Mais ainda ante um rival que se manteve sempre curto e compacto.