TESTEMUNHA RECORDA PÂNICO DA VÍTIMA
“Eles matam-me se vou à polícia”, disse Santiago a Filipa depois de ser molestado sexualmente
çUm dos momentos mais emocionantes da terceira sessão do julgamento dos 13 casuals ligados aos No Name Boys, que decorre no Campus da Justiça, em Lisboa, aconteceu ontem à tarde durante as declarações de uma testemunha. Filipa Madeira prestou auxílio a Santiago, jovem de 16 anos molestado sexualmente com um pau num descampado perto no Alto dos Moinhos, a 19 de abril de 2022.
Quando lembrou o ar “assustado e exaltado” do menor, não conteve as lágrimas. Perante 12 dos 13 arguidos, contou que eram cerca das 23h30 quando passeava
PEDRO SILVA GARANTIU QUE FOI AGREDIDO POR TER PUBLICADO NAS REDES SOCIAIS FOTOS DO LOCAL ONDE OS NN FICAM NA LUZ
o cão e se deparou com um rapaz saído do descampado em roupa interior. Estas agressões aconteceram depois de um dérbi de futsal. A primeira reação da testemunha foi de receio, mas depois ficou com ele até à chegada dos pais. Ela própria cedeu o telemóvel para Santiago poder contactar os familiares. “Disse-lhe que tinha de ir à polícia, mas ele recusou. ‘Eles matam-me se vou à polícia’, dizia.” Filipa Madeira notou que o menor tinha “a cara e os olhos inchados e os lábios com sangue. Enquanto falava, chorava e queixava-se de dores nas costas. Dizia que lhe tinham encostado um very-light ao peito.” Mais tarde, a testemunha precisou que era um artefacto pirotécnico em “fogo” que foi “aproximado do peito”.
Quem também testemunhou ontem foi Pedro Silva, agredido a 21 outubro de 2022, dia de FC Porto-Benfica. Falando do estrangeiro, por videoconferência, este adepto do Benfica relatou agressões de que ele e um amigo foram alvo, alegadamente no mesmo local onde Santiago havia sido molestado sexualmente. “Mandaram-nos despir, ficámos nus deitados de costas, deram-nos socos e bicos [pontapés] na cabeça, até nos pisaram. Depois, houve alguém que falou em ir buscar o pau da vassoura para colocar no ânus, mas disseram que isso não”, recordou, imputando essas agressões a só um elemento, que era tratado por quem estava como ele como “o mais velho”. O motivo das agressões, assegurou, foi a publicação de fotografias nas redes sociais do local onde ficam os No Name Boys no Estádio da Luz. Detidos em janeiro no âmbito de uma megaoperação contra a violência no futebol, os casuals respondem por crimes de roubo, ofensas à integridade física, violação agravada, gravações ilícitas, coação agravada, desobediência, detenção de arma proibida e tráfico de estupefacientes. O julgamento prossegue na segunda-feira.
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