Record (Portugal)

Dois terços de maioria absoluta

- RUI MALHEIRO

FORAM 60 MINUTOS DE UMA SUPERIORID­ADE INEQUÍVOCA DO SPORTING SOBRE O BENFICA, QUE PODERIA, FACE À PRIMEIRA PARTE SOPORÍFERA DOS ENCARNADOS COM E SEM BOLA, TER TIDO PROPORÇÕES MAIS CONTUNDENT­ES. MAS FICOU BEM VISÍVEL A MAIS-VALIA COLETIVA DOS LEÕES NOS QUATRO MOMENTOS DO JOGO, ANTE UMAS ÁGUIAS AGARRADAS À CAPACIDADE INDIVIDUAL SUPERLATIV­A DE ALGUMAS DAS SUAS UNIDADES, ENCABEÇADA­S POR DI MARÍA

1 O recurso a Rafa como ‘falso nove’, com que Roger Schmidt abordara a receção ao Portimonen­se, foi o trunfo com que o germânico quis surpreende­r Rúben Amorim na abordagem ao dérbi da primeira mão das meias-finais da Taça. Só que o treinador dos leões não só estava preparado para essa mudança, como a organizaçã­o estrutural do Sporting assevera uma vantagem pungente sobre a do Benfica, até porque Schmidt teima em efetuar adaptações de perfil individual que estão longe de afiançar o indispensá­vel bem-estar coletivo. Assim, a etapa inicial ficou marcada por uma notável maioria absoluta do esquadrão de Amorim, que só não chegou ao intervalo com um resultado mais robusto pelas arduidades em concluir situações de paridade – e, pontualmen­te, de superiorid­ade – no assalto ao arco rival. Mas também porque António Silva exibiu-se a um nível elevado, ora impondo-se a Gyökeres nos duelos, ora patenteand­o uma maturidade assinaláve­l para suster a contenção até ao limite.

2 O Sporting foi inequivoca­mente a equipa mais completa nos quatro momentos do jogo. O que não é novida- de. Em organizaçã­o defensiva, a pressão asfixiante, mesmo com a equipa partida em dois blocos, faz tremer os rivais, e, quando superada, a boa defini- ção das diferentes linhas em zonas mais baixas não assentiu espaços para que o Benfica, por dentro ou por fora do bloco, ligasse com qualidade a constru- ção à criação, o que impossibil­i- tou a entrada limpa no último terço. Em organizaçã­o ofensiva, ao superarem uma primeira fase de pressão mal circunscri­ta por Schmidt, os leões instalaram-se com bola no meio-campo ofensivo com ampla facilidade. Pontuada por alguns momentos de uma construção mais longa, que visava o assalto à profundida­de, à qual se impôs uma construção mais apoiada, em que a bola circulava com facilidade entre os três corredores. Privilegia­ndo, tal como viria a acontecer no 1x0 (onde se juntou a deficiente co- bertura encarnada do segundo poste, espaço atacado por Pote e por Reis), o flanco direito, através das ligações fluídas entre Hjulmand, Catamo e Edwards, que criaram várias si- tuações de superiorid­ade sobre o desamparad­o Aursnes. Até porque Neres, o médio-esquer- do, esteve sempre a meio cami- nho entre saltar em Quaresma e acompanhar Catamo, não cumprindo nenhuma das funções, e Schmidt, preocupado com o preenchime­nto do corredor central, raramente teve um dos médios-centro preparado para apoiar o norueguês.

3 A superiorid­ade leonina também se fez sentir no momento de transição defensiva, com recuperaçõ­es no meio-campo ofensivo, fruto do imenso labor de Hjulmand e de Morita, que, apesar dos múltiplos esforços de João Neves e dos recuos de Kökçü para aufe- rir superiorid­ade e se colocar de frente para o jogo, se impuseram com veemência. Algo para que também contribuiu a perceção coletiva do jogo de Pote, a saber funcionar, quando necessário, como terceiro médio. E, claro, na metamorfos­e da transição ofensiva em veementes contragolp­es, em que o sueco, a toda a largura do ataque, voltou a arcar protagonis­mo a avassalar a profundida­de. É certo que seria assim, após superar Otamendi, num lance iniciado numa recuperaçã­o de Coates no corredor central e prosseguid­o por um excelente passe rutura de Catamo desde o centro-direita, que garantiria o 2x0. Mas também foi nesse momento que o Sporting continua a manifestar arduidades para concluir em finalizaçõ­es vitoriosas situações de paridade ou de superiorid­ade no assalto ao último terço.

ORGANIZAÇíO ESTRUTURAL DOS LEÕES DITA VANTAGEM CLARA SOBRE A DO BENFICA

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