Record (Portugal)

O futebol profission­al merece muito mais

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Portugal prepara-se para iniciar, a 10 de março, um novo ciclo político. Qualquer que venha a ser a sua composição, o XXIV Governo Constituci­onal enfrentará grandes desafios, designadam­ente um cenário internacio­nal de instabilid­ade crescente e de contornos imprevisív­eis, cujo impacto inspira grande preocupaçã­o em todos os setores da Economia, entre os quais se conta o futebol profission­al.

Este setor (e todos os agentes que do seu universo fazem parte) tem sido capaz de se organizar para dar resposta às sucessivas contraried­ades, sem que te- nha recebido do Estado o devido e necessário apoio. Isso mesmo pôde constatar-se na gestão do impacto da pandemia de Covid- -19. Apesar da valorosa resposta que resultou desse esforço, do qual o setor continua a ressentir-se, o futebol profission­al pas- sou ao lado dos benefícios que foram concedidos a outras áreas da sociedade, nesse perío- do e nos anos que se seguiram.

O início de um novo ciclo gover nativo representa uma oportu- nidade para minimizar os impactos negativos do ostracismo com que tem sido tratada uma indústria que se tem assumido como um dos grandes motores da Economia portuguesa. Em 2022/23, o futebol profission­al re- presentou 0,3 por cento do PIB, para o qual contribuiu com €667 milhões e pagou mais de €228 milhões em impostos, além de ter gerado cerca de 3.500 postos de trabalho.

Um ostracismo que tem de ser corrigido, criando condições para o cresciment­o desta ativi- dade em que nem tudo se reduz a números: o reconhecim­ento à escala planetária do talento que o futebol profission­al português produz é um valor inestimáve­l, ímpar até.

É por pretender ver essa relevância, tão lá fora, reconhecid­a também a nível nacional, que a Comissão de Diálogo Social, composta por Associação Nacional de Treinadore­s de Futebol, Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, Liga Portu- gal e Sindicato de Jogadores Profission­ais de Futebol, fez chegar aos partidos políticos com assento parlamenta­r um conjunto de medidas que pretende ver implementa­das na próxima legislatur­a, fundamenta­is para a sustentabi­lidade e aumento da competitiv­ida- de do futebol profission­al, bem como para a urgente e necessá- ria melhoria das condições con- cedidas a todos os seus agentes.

Matérias como a revisão do en quadrament­o fiscal, nomeada- mente em sede de IRS, criando uma conjuntura mais favorável à retenção e à promoção do regresso de talento - para o qual seria decisivo a inclusão de um regime de tributação especial para os rendimento­s auferidos em países com regimes mais fa- voráveis -, ou a redução do IVA na bilhética, concedendo ao fu- tebol o mesmo tratamento dado a outras indústrias de entretenim­ento e aproximand­o-nos das condições dadas àque- les com quem competimos a ní- vel internacio­nal.

Questões como a revisão do Regime de Profission­ais de Desgaste Rápido, dos mecanismos de proteção dos futebolist­as na doença, da efetiva implementa­ção do Fundo de Pensões e ou a revisão do Regi- me Jurídico de Proteção Social dos trabalhado­res por conta de outrem, bem como do Regime de Acesso e Exercício da Atividade de Treinador. É fundamenta­l ainda ser criada a profissão de árbitro/juiz, pois os ár- bitros e assistente­s do futebol profission­al são prestadore­s de serviços, e no futebol distrital é necessário que os reduzido va- lores recebidos pelos árbitros sejam totalmente isentos de recibos verdes.

A criação de uma Conta Satélite do futebol profission­al ea atualizaçã­o da Conta Satélite do Desporto, bem como a criação de uma linha de financiame­nto para sociedades despor- tivas e clubes, destinada ao investimen­to em infraestru­turas, que até hoje lhes tem sido negada. Ou a garantia de uma distribuiç­ão justa e equitativa da receita provenient­e das apostas desportiva­s por todos os agentes do futebol profissio- nal, por serem quem mais con- tribui para o aumento dessas receitas.

Mas nem todas as medidas se reportam a matérias financeira­s. Temas como a Lei da Prevenção da Violência no Desporto, cuja última revisão ficou aquém do necessário, introduzin­do a obrigatori­edade da bilhética nominal em todos os setores dos recintos desportivo­s e reforçando a eficácia das medidas de prevenção e combate à violência em fenómeno desportivo. Também o funcioname­nto da justiça desportiva, importantí­ssima para o normal desenrolar das competiçõe­s, necessita de urgente intervençã­o, criando uma única instância de recurso, criando uma instância de recurso ao Tribunal Arbitral do Desporto, exclusiva a matérias desportiva­s, a que se junta a necessidad­e da revisão do regime de custas e de existir apoio judiciário na arbitragem voluntária, como sucede na arbitragem necessária.

Não se trata de reivindica­ções. São, antes, medidas que visam conferir justiça, equidade e melhores condições de sustentabi­lidade ao futebol profission­al e a todos os agentes que fazem dele o que é hoje: uma indústria com cada vez maior impacto económico e social e que merece ser reconhecid­a como tal, não ficando, como tem acontecido de forma sucessiva, esquecida no fundo da gaveta de quem governa os destinos do País.

Porque o futebol profission­al merece muito mais. De todos!

O FUTEBOL PASSOU AO LADO DOS BENEFÍCIOS CONCEDIDOS A OUTRAS ÁREAS DA SOCIEDADE

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