Record (Portugal)

Nova realidade cheia de desafios

Diferenças culturais e sociais forçaram o técnico a ajustar forma de liderar e de dar treino. Início foi trabalhoso, mas o mais difícil já passou. Só a saudade da família é que ainda pesa

- PEDRO MORAIS

“JOGADOR CHINÊS NÃO ENCARA BEM O GRITO. PODE SER VISTO COMO UMA COISA MÁ, NISSO TIVE DIFICULDAD­ES...”

Mudar de país não é uma decisão que se tome de ânimo leve, já que esse é um cenário que implica deixar tudo para trás, mas partir para outro continente situado no outro lado do Mundo, onde tudo é diferente e novo, será ainda mais difícil. No entanto, os espíritos mais aventureir­os não se deixam atemorizar pelo fator novidade e partem à descoberta de novas experiênci­as. Há também quem lhe tome o gosto e faça as malas, não uma, mas várias vezes. Caso de Ricardo Soares, que, depois de uma passagem turbulenta pelo Al-Ahly, do Egito, voltou a Portugal para orientar o Estoril antes de arrancar para nova experiênci­a fora, desta feita no Beijing Guoan.

Desde junho de 2023 que o técnico português está ao leme do emblema chinês e, a Record, explica o que encontrou. “O clube está muito bem organizado. O staff está muito bem composto, com departamen­tos muito profission­ais. Os costumes, esses, são totalmente diferentes. A adaptação nunca é totalmente fácil quando saímos do nosso país e vimos para um tão diferente, mas quando temos foco e determinaç­ão, nada nos faz parar. Preparei-me mentalment­e para vir para cá”, confessou, em declaraçõe­s ao nosso jornal. Na primeira meia época ao leme, Ricardo Soares usou o tempo para se adaptar e perceber que estratégia­s resultam perante um grupo de trabalho novo, composto por jogadores com hábitos e formas de estar diferentes. “O treino é diferente e a forma de liderar também. O jogador chinês não encara bem o grito. Pode ser encarado como uma coisa má, nisso tive algumas dificuldad­es, tive de me ajustar. Percebi que teria de ter uma liderança diferente no que toca a gestos e estratégia­s, porque o que resulta bem em Portugal aqui não tem o mesmo efeito. Houve até um caso que podia ter dado para o torto, quando tentei picar um jogador para ele se chatear internamen­te, mas felizmente tenho jogadores que passaram por Portugal, como o Dabao, que passou pelo Benfica, que quiseram ajudar-me”, assumiu.

Não obstante, a impressão foi, desde início, muito boa. “O campeonato é muito competitiv­o. Há oito equipas que podem lutar pelo título. Qualquer uma delas pode ser campeã, as outras 10 lutam pela permanênci­a. Os estádios estão cheios e são grandes estádios. Pena a relva não ser tão boa. A liga está bem organizada, mas precisava de algumas mudanças para proporcion­ar espetáculo­s ainda maiores”, admitiu, deixando, neste ponto, vários elogios a Portugal.

“A Liga portuguesa está num nível altíssimo, em termos de jogadores, treinadore­s, árbitros, organizaçã­o. Agora que já experiment­ei dois países, há ponto de comparação. Há muita competênci­a e valorizo muito o nosso campeonato”, frisou. Quase nove meses após dar um salto de fé e rumar à China, Ricardo Soares é um treinador satisfeito. Contudo, há um aspeto pessoal que ainda magoa: as saudades da família. “Não é uma decisão fácil deixar os filhos e a família, que são o mais importante para mim. Mas tenho objetivos de carreira e este era um deles. Não sendo fácil, tinha ambições em termos de carreira. E, se quero lutar por algo mais, terei de fazer sacrifício­s para saber realmente qual é a minha melhor versão. É uma profissão em constante evolução e queremos ser sempre melhores, queremos desafios maiores e eu quero sempre algo mais para a minha carreira. Quero ver se consigo ser competente nos mais variados contextos”, concluiu.

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ESTABELECI­DO. Ricardo Soares já quebrou as barreiras que se ergueram no início e está adaptado ao contexto chinês
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