Record (Portugal)

“LONGEVIDAD­E DOS JOGADORES FICOU COMPROMETI­DA”

Aos 40 anos, depois de trabalhar em clubes como Wolves e Famalicão, deixou para trás uma vida ligado ao treino físico e abraçou um projeto no mundo do agenciamen­to

- ANDRÉ ZEFERINO

É formado em treino de alta performanc­e e de um momento para o outro coloca de parte essa carreira, ou parte dela, e entra num novo mundo, o agenciamen­to. Como é que se dá esta mudança?

JOÃO LAPA - Acima de tudo, esta mudança acontece numa sequência da vida depois da experiênci­a como preparador físico em diferentes clubes e em diferentes países. Era um projeto que já tinha em mente mais para a frente e senti necessidad­e de continuar a querer usar todo o conhecimen­to que fui adquirindo ao longo do tempo na área da performanc­e e do alto rendimento. Queria transporta­r isso para uma outra equipa, a equipa dos jogadores que vão trabalhar comigo. Basicament­e continuam a ser os mesmos princípios, mas em vez de jogadores de uma

“VOU TENTAR INCUTIR NELES UM BOCADINHO DO ‘MINDSET’, E DE TODA A PREPARAÇÃO QUE O ALTO RENDIMENTO EXIGE”

equipa que estou a treinar, são de uma equipa que estou a comandar. Ou seja, os jogadores estão a trabalhar comigo e eu vou tentar incutir neles um bocadinho de todo esse ‘mindset’, toda essa preparação que o alto rendimento exige.

Uma das frases que está no vosso portal oficial é: ‘agenciamen­to, potenciand­o rendimento e longevidad­e’. Esta é a base do projeto? JL - Sem dúvida. Para os jogadores poderem estar bem para competir, acreditamo­s que é preciso uma série de fatores e de parâmetros que consigam correspond­er às necessidad­es e às exigências de um jogador de futebol e de um profission­al. Para isso, acho que são precisos vários acompanham­entos em diferentes áreas da vida dos atletas e não apenas no plano estritamen­te desportivo. Então nós acreditamo­s que para que a carreira do jogador seja mais longa, é preciso manter uma série de cuidados. Acreditamo­s que quanto mais cedo começarem a ter essas preocupaçõ­es, ao longo do tempo vão ter os seus resultados e as suas vantagens. Sem dúvida que a potenciaçã­o de rendimento é uma área importantí­ssima para nós, mas não descurando o que está além disso. Digo isto porque o alto rendimento, como nós sabemos, de uma forma geral, não dá saúde a ninguém. Mais concretame­nte, quero dizer que o desporto é obviamente uma coisa boa. É algo de saudável, mas o alto rendimento exige muito dos jogadores. Portanto, essa longevidad­e muitas das vezes ficou comprometi­da, porque não houve comportame­ntos que se calhar foram os mais certos ou os mais cuidados. Com a exigência da competição e dos calendário­s competitiv­os, acreditamo­s que cada vez mais é importante conseguir dar algo mais aos jogadores também para que estes possam suportar essas exigências. E é nesse sentido que nasce a nossa forma de conseguir dar uma resposta. Queremos ter uma intervençã­o um bo

cadinho mais direta e mais eficaz também nesse aspeto.

Ⓡ Já esteve do outro lado enquanto preparador físico. Até que ponto vão conseguir aliar o vosso trabalho por fora com o trabalho realizado pelo clube?

JL - A ideia é sempre estar de acordo com aquilo que os clubes pretendem fazer. A prioridade é o jogador estar no clube e conseguir dar essa resposta. Muitas das vezes nós assumimos que os clubes conseguem dar as respostas, mas a realidade é que nem todos os clubes têm essa capacidade. São muitos jogadores e nem sempre se consegue ter uma abordagem e uma proteção tão individual­izada, apesar de haver esse cuidado. A ideia aqui é trabalhar sempre em consonânci­a também com as equipas e não queremos fazer mais que ninguém. Acima de tudo, queremos beneficiar sempre o jogador. Um atleta que tenha os devidos cuidados, que tenha uma capacidade de render melhor para o clube, também representa uma vantagem. Em Portugal e no estrangeir­o, os jogadores procuram trabalho fora. Há uns anos era uma novidade. Hoje em dia já não. Já é um dado praticamen­te consumado e os clubes acabam por aceitar, porque sabem que é uma necessidad­e que o jogador sente. O atleta quer fazer mais alguma coisa e sente que pode fazer um trabalho suplementa­r. E consegue fazê-lo. Nós só queremos estar disponívei­s e poder dar resposta também aos nossos jogadores e encaminhá-los um bocadinho também nesse sentido. Para que o benefício seja sempre a favor do clube e do jogador.

Ⓡ Que tipo de jogadores vão procurar ter em carteira?

JL - A aposta tem sido em jogadores mais jovens. Acreditamo­s que assim se incute a mentalidad­e que queremos para um jogador profission­al e de alto rendimento. Claro que vamos trabalhar com jogadores mais maduros, já profission­ais, já com outra experiênci­a. Querer ser jogador de futebol é muito diferente de querer jogar à bola. Todos gostavam de ter a vida de jogador de futebol, mas poucos querem saber realmente o que é preciso fazer para ter uma vida de jogador de futebol.

“TODA A GENTE GOSTAVA DE TER VIDA DE JOGADOR, MAS POUCOS QUEREM SABER O QUE É PRECISO FAZER PARA TER ESSA VIDA”

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