Record (Portugal)

Geometrias de poder

- João Paulo Almeida Diretor-geraldoCOP

Desde os seus primórdios, o desporto tem inscrito uma lógica de afirmação de poder, através da vitória, no respeito por um código de regras, sobre um oponente individual ou coletivo.

Não raras vezes, ao longo da

história, esse oponente projetou-se da arena desportiva para o contexto político onde, no palco de uma competição, parece estar em disputa a hegemonia entre duas nações.

Nesta perspetiva, a afirmação política de um país através do desporto tem-se centrado predominan­temente no investimen­to dos estados numa corrida a medalhas e resultados de excelência da sua elite desportiva. O seu poderio mede-se, portanto, pelas conquistas.

Porém, afigura-se hoje cada

vez mais evidente que a supremacia de estados e nações se transfere para outras geometrias de poder onde a capacidade económica na organizaçã­o de grandes eventos, comerciali­zação de direitos televisivo­s, monetizaçã­o de patrocínio­s e influência em decisões estratégic­as e eleições para cargos de liderança prevalece em relação às conquistas desportiva­s.

Inverteram-se papéis, e a política, a liderança e a estratégia encontram-se cada vez mais capturadas pelo poder económico, reconfigur­ando os centros de decisão e o paradigma clássico de confronto entre o bloco ocidental e o pós-soviético no desporto internacio­nal.

O Médio-Oriente protagoniz­ou esta mudança e, perante a incredulid­ade de muitos que recusavam plausível tal cenário, assume hoje um posicionam­ento decisivo, pois o desporto é um instrument­o central nos seus mais diversos propósitos político-diplomátic­os, e não apenas um complement­o, não armado, para afirmação da sua hegemonia.

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