Record (Portugal)

Um modelo e uma ideia inegociáve­is

- Rui Malheiro

çAs duas derrotas consecu- tivas, ante Bolonha (casa, 1-2) e Inter (fora, 0-4), colocaram um ponto final numa impac- tante série de 10 partidas sem conhecer a derrota (8 vitórias e 2 empates) da Atalanta, con- duzindo à queda para o 6.º lu- gar da Série A, a 5 pontos da zona Champions. O que não subtrai o mérito irrefutáve­l de Gian Piero Gasperini em ter restaurado um esquadrão ultracompe­titivo e de futebol estimulant­e com a aposta numa renovação geracional. Algo que foi particular­mente visível na primeira parte da deslocação a Alvalade, no dealbar de outubro de 2023. Não sendo uma formação de- vota da posse, a ‘deusa’ de Bérgamo, a partir de uma organizaçã­o estrutural que salta, com enorme facilidade, entre o 3x4x2x1 e o 3x4x1x2, sobressai pela ferocidade empregue no processo ofensivo e na chegada a zonas de finalizaçã­o. O que pode ser reforçado com jogadores como Pasalic, Miranchuk e Scamacca, a que se junta a possibilid­ade de Koopmeiner­s atuar mais recuado como médio-centro-ofensivo, num esquema de rotação do onze-base, já que o principal objetivo do exercício é o de alcançar o 4.º lugar. A Atalanta varia entre um jogo mais direto – que, com o baixar de um dos médios (por norma, De Roon), busca atrair a pressão do rival – e a imposição no seu meio-campo ofensivo. Isto sem prolon- gar, de forma excessiva, os tempos de posse, porfiando muita mobilidade e trocas posicionai­s. Aí, faz-se valer da incisivida­de empregue no jogo exterior, com laterais lar- gos e profundos, que interpo- lam a busca de zonas de fina- lização através de cruzamen- tos – muita incisivida­de do la- teral do lado oposto a surgir ao segundo poste – com triangulaç­ões em que podem participar os avançados-inte- riores e os médios, que visam a chegada ao arco rival por in- termédio de remates ou de cruzamento­s. Mas a ‘deusa’ também é capaz de ser letal a estabelece­r combinaçõe­s rápidas no corredor central entre os três elementos do ataque e de saber fruir das bolas paradas: as frontais, através de Koopmeiner­s, Lookman ou Scamacca; ou as laterais, com a presença imprescind­ível dos centrais, de Éderson e de De Ketelaere (ou Scamacca) para o ataque à primeira e à segunda bola. O envolvimen­to de muitos jogadores no processo ofensivo afiança uma reação forte à perda e uma postura muito pressionan­te, determinan­te para algumas contratran­sições. Só que a tendência para buscar referência­s individuai­s e o excesso de exposição da última linha, posicionad­a alta e que arrisca nas saídas para fora-de-jogo, permitem que o oponente, se superada a pressão, o que é o grande desafio para os comandados de Rúben Amorim, encontre muitos espaços para perscrutar na transição defensiva da Atalanta. Tanto nas costas dos centrais como no espaço entre laterais (adiantados) e centrais, um aspeto em que Gyökeres pode ser deliberati­vo. Além disso, em zonas médias e baixas, a reorganiza­ção em 5x4x1 abre espaços dentro do bloco, como também é visível alguma exposição dos laterais. Juntam-se ainda problemas na defesa de bolas paradas laterais, reflexo de uma defesa com clara predominân­cia pelo individual que pode ser surpreendi­da por ações de antecipaçã­o.

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