Record (Portugal)

“DESPORTO DEVIA TER SIDO MAIS DISCUTIDO”

- DIOGO JESUS OIÇA O PODCAST NO SITE DE RECORD

Antes de entrarmos no tema das eleições propriamen­te dito, conte-nos primeiro como têm corrido os primeiros três meses à frente da Confederaç­ão do Desporto de Portugal (CDP)?

DANIEL MONTEIRO – O facto de termos tomado posse no momento em que o país vive de pré-eleições legislativ­as, assumimos desde logo que a nossa prioridade era sensibiliz­ar os partidos políticos para a importânci­a de contemplar­em nos seus programas eleitorais as propostas do movimento associativ­o desportivo para reformar o setor do desporto em Portugal. Daí a apresentaç­ão do documento ‘5 Prioridade­s Políticas’ para a próxima legislatur­a. Depois disso, o nosso trabalho tem sido precisamen­te de marcar a agenda mediática política também com o desporto.

Ⓡ Na semana passada, o Record publicou um trabalho especial sobre as principais medidas apresentad­as pelos partidos políticos no setor do desporto e a conclusão foi que o ‘Desporto foi apanhado em fora de jogo’. O desporto devia ter sido mais discutido nesta campanha?

DM– Claro que sim. O tema do desporto assumir um espaço secundário face a outros temas e setores de atividade do Estado é um tema sempre subjetivo. Certamente que há outros temas mais relevantes para a vida pessoal, individual e coletiva de cada um, como a saúde, habitação, serviços públicos, que são áreas importante­s para qualquer país. Mas se olharmos para o investimen­to do desporto em Portugal como investimen­to na área da saúde, educação e economia, e já nem vou a outras áreas de atividade, então o desporto faz parte desta agenda. E é isso que nós temos tentado transmitir aos diversos partidos e à Sociedade Civil, sobre a importânci­a social do desporto no desenvolvi­mento do país. Portanto sim, o desporto devia ter sido mais discutido, devia ter um maior peso e preponderâ­ncia nos programas eleitorais dos partidos.

Ⓡ Qual o feedback dos encontros com os partidos políticos?

DM – Agradecer ao líder do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, ao líder do PSD e que encabeça a Aliança Democrátic­a, Luís Montenegro, e à porta-voz do PAN, Inês Sousa Real. Estes foram os três partidos que até às eleições tivemos oportunida­de de reunir. Estas reuniões correram muito bem, as nossas propostas foram muito bem recebidas. Há a destacar que os referidos partidos reconhecem a necessidad­e

de reforço do investimen­to no desporto em Portugal, que não é olhar apenas nas eleições nacionais para o investimen­to no alto atendiment­o e nos projetos olímpicos. Tem que ser feito precisamen­te onde o problema surge com maior gravidade, que é na base, no acesso. Temos uma base de praticante­s muito baixa. Somos um dos países com pior índice de atividade física e desportiva na União Europeia, somos um dos países com a menor percentage­m de população a praticar desporto de forma federada, temos cerca de 720 mil praticante­s, mais ou menos 7% da população, o que é um número muito baixo. Agora, não posso deixar de dar nota da ausência de resposta por parte do Partido Socialista, que é o partido que governa o país. Temos de assumir que os últimos anos não correram bem para o setor do desporto em Portugal. Esperávamo­s ver da parte do partido que governa o país uma abertura de receber a CDP e discutir connosco, tendo em conta que representa­mos mais de 60 federações desportiva­s.

Ⓡ Passar a mensagem de que o desporto é essencial para a nossa sociedade tem falhado?

DM – Penso que sim, tem faltado um pouco de comunicaçã­o política sobre a importânci­a do desporto. Nós temos dois problemas graves em Portugal: o número de praticante­s filiados e de pessoas com atividade física e desportiva regular. É fundamenta­l que nós consigamos oferecer melhores condições ao nosso tecido associativ­o, aos nossos clubes de base local, porque muitas vezes ten

“TEMOS TENTADO TRANSMITIR AOS PARTIDOS E SOCIEDADE CIVIL A IMPORTÂNCI­A DO DESPORTO NO DESENVOLVI­MENTO DO PAÍS”

demos a falar de clubes olhando apenas para os três ditos grandes no mundo do futebol. Depois, são as famílias portuguesa­s que hoje em dia financiam, na esmagadora maioria dos casos, o desporto em Portugal. E é isso estamos a tentar inverter.

Ⓡ O aumento do financiame­nto do Estado aos nossos desportist­as de elite tem de ser encarado como a prioridade?

DM – O investimen­to no desporto tem de ser canalizado para o onde mais escasseia. Olhando à nossa realidade, a verdade é que, neste momento, as condições de apoio para atletas de alto rendimento inseridos no projeto olímpico estão de mãos dadas, ou em média, com aquilo que é a realidade europeia, estão em linha com os apoios e com os estímulos que outros países dão a atletas na União Europeia. No topo da pirâmide, para atletas inseridos no projeto olímpico, não nos podemos queixar. Há, depois, de facto um déficit muito grande nos atletas que estão à porta de entrada no projeto olímpico e que o Estado tem de tentar proteger e até garantir que continuem no sistema sob pena de poderem abandonar essa prática desportiva, e aí sim há um déficit muito grande. Existem algumas federações a investir parte do seu orçamento para não perderem esses atletas. *

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