A linha do futuro portista
SÉRGIO CONCEIÇÃO É A INDISCUTÍVEL PEDRA ANGULAR DO CLUBE. É ELE QUE GANHA, QUE DÁ VALOR À EQUIPA, QUE MOLDA A IDENTIDADE COMPETITIVA, QUE FIXA A NARRATIVA E PROJETA A IMAGEM GANHADORA PELA EUROPA E PELO MUNDO
Na atual geografia emocional e política do FCPorto percebe-se bem qual é linha de futuro. Na semana em que os dragões golearam o Benfica, de forma justíssima, limpa, inapelável, também emerge, simples e cristalina, a percepção sobre onde estão as forças motrizes do clube, capazes de atacar os problemas financeiros, e de projetá-lo para um futuro ao nível do que conheceu nos últimos 40 anos.
Sérgio Conceição, pela enésima vez, demonstra toda a sua categoria, saber e experiência. Não diminuindo, obviamente, o FCPorto, Conceição é um treinador que merece, cada vez mais, uma carreira internacional recheada de glórias.
Campeonatos como o inglês, alemão, espanhol, ou mesmo o italiano, são, definitivamente, o seu palco natural. A sua capacidade de conciliar sabedoria técnico-tática com a liderança e gestão dos jogadores, é um talento único.
O treinador dos dragões é a indiscutível pedra angular do clube. É ele que ganha, que dá valor à equipa, que molda a iden- tidade competitiva, que fixa a narrativa e projeta a imagem ga- nhadora pela Europa e pelo Mundo. Se eu fosse do Benfica e certas mudanças fossem possíveis no mundo tribalizado do fu- tebol, então, defenderia que ele é o treinador certo na Luz.
Tudo o que tem corrido menos bem esta época, e que coloca os portistas na atual posição, é sobretudo responsabilidade das estruturas de um clube que foi substituindo a velha exigência profissional pelo amiguismo. Bem se percebem agora algumas das guerras internas que Concei- ção foi travando, de forma mais ou menos discreta, em matérias como o recrutamento de jogado- res e o departamento médico.
Numa outra perspectiva, ainda desta semana, André Villas-Boas volta a mostrar o valor da sua candidatura. Quando Pinto da Costa não resiste a cavalgar o su- cesso desportivo de Sérgio Conceição,
pondo em comparação as goleadas sobre o Benfica conquistadas por este e por Villas-Boas, o caminho já não é muito bom. Mas quando diz que a candidatura de Villas-Boas tem gen- te com “interesses televisivos e na venda de jogadores”, então, es- tamos ao nível de uma luta entre um misto de Átila e Alzheimer com um super-herói da Marvel.
O efeito boomerang não se fez esperar, com elegância e incomodidade por ter de responder a alguém que se respeita e admira. É que se há matérias difíceis para Pinto da Costa são mesmo o pantanal de comissionismo que criou à volta das transferências, a par do contrato dos direitos televisivos negociados com a Altice, no mais puro registo de ilusão negocial, para não lhe chamarmos outra coisa, com empolamento de valores e comissões para todos, fornecedores, fornecidos e intermediários. Enfim, Villas Boas não disse mas percebeu-se: alguém deveria ajudar Pinto da Costa a acabar a sua presidência com dignidade.