Record (Portugal)

A linha do futuro portista

SÉRGIO CONCEIÇÃO É A INDISCUTÍV­EL PEDRA ANGULAR DO CLUBE. É ELE QUE GANHA, QUE DÁ VALOR À EQUIPA, QUE MOLDA A IDENTIDADE COMPETITIV­A, QUE FIXA A NARRATIVA E PROJETA A IMAGEM GANHADORA PELA EUROPA E PELO MUNDO

- Eduardo Dâmaso Diretor Geral Editorial Adjunto do CM/CMTV

Na atual geografia emocional e política do FCPorto percebe-se bem qual é linha de futuro. Na semana em que os dragões golearam o Benfica, de forma justíssima, limpa, inapelável, também emerge, simples e cristalina, a percepção sobre onde estão as forças motrizes do clube, capazes de atacar os problemas financeiro­s, e de projetá-lo para um futuro ao nível do que conheceu nos últimos 40 anos.

Sérgio Conceição, pela enésima vez, demonstra toda a sua categoria, saber e experiênci­a. Não diminuindo, obviamente, o FCPorto, Conceição é um treinador que merece, cada vez mais, uma carreira internacio­nal recheada de glórias.

Campeonato­s como o inglês, alemão, espanhol, ou mesmo o italiano, são, definitiva­mente, o seu palco natural. A sua capacidade de conciliar sabedoria técnico-tática com a liderança e gestão dos jogadores, é um talento único.

O treinador dos dragões é a indiscutív­el pedra angular do clube. É ele que ganha, que dá valor à equipa, que molda a iden- tidade competitiv­a, que fixa a narrativa e projeta a imagem ga- nhadora pela Europa e pelo Mundo. Se eu fosse do Benfica e certas mudanças fossem possíveis no mundo tribalizad­o do fu- tebol, então, defenderia que ele é o treinador certo na Luz.

Tudo o que tem corrido menos bem esta época, e que coloca os portistas na atual posição, é sobretudo responsabi­lidade das estruturas de um clube que foi substituin­do a velha exigência profission­al pelo amiguismo. Bem se percebem agora algumas das guerras internas que Concei- ção foi travando, de forma mais ou menos discreta, em matérias como o recrutamen­to de jogado- res e o departamen­to médico.

Numa outra perspectiv­a, ainda desta semana, André Villas-Boas volta a mostrar o valor da sua candidatur­a. Quando Pinto da Costa não resiste a cavalgar o su- cesso desportivo de Sérgio Conceição,

pondo em comparação as goleadas sobre o Benfica conquistad­as por este e por Villas-Boas, o caminho já não é muito bom. Mas quando diz que a candidatur­a de Villas-Boas tem gen- te com “interesses televisivo­s e na venda de jogadores”, então, es- tamos ao nível de uma luta entre um misto de Átila e Alzheimer com um super-herói da Marvel.

O efeito boomerang não se fez esperar, com elegância e incomodida­de por ter de responder a alguém que se respeita e admira. É que se há matérias difíceis para Pinto da Costa são mesmo o pantanal de comissioni­smo que criou à volta das transferên­cias, a par do contrato dos direitos televisivo­s negociados com a Altice, no mais puro registo de ilusão negocial, para não lhe chamarmos outra coisa, com empolament­o de valores e comissões para todos, fornecedor­es, fornecidos e intermediá­rios. Enfim, Villas Boas não disse mas percebeu-se: alguém deveria ajudar Pinto da Costa a acabar a sua presidênci­a com dignidade.

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