Record (Portugal)

O mérito a quem o merece

- RUI MALHEIRO

SCHMIDT NÃO TEM

RESPOSTA PARA AS ESPECIFICI­DADES DOS JOGOS DE MAIOR CARTAZ

O BENFICA SAIU DO DRAGÃO COM 6 PONTOS DE VANTAGEM SOBRE O FC PORTO, MAS MESMO QUE VENHA A SER CAMPEÃO SERÁ IMPOSSÍVEL ESQUECER A AVILTANTE DERROTA POR 5-0. UMA EXIBIÇÃO MAIOR DOS COMANDADOS DE CONCEIÇÃO, O GRANDE PROTAGONIS­TA DO TRIUNFO, PELA APTIDÃO PARA ROBUSTECER O SEU MODELO A PARTIR DOS AJUSTES ESTRATÉGIC­OS QUE PRODUZ A PARTIR DA ANÁLISE DOS RIVAIS

1 Independen­temente da exibição paupérrima do Benfica, o grande protagonis­ta do clássico foi Sérgio Conceição. Uma nova masterclas­s técnica-estratégic­a, com propriedad­es diferentes da que impôs ao Arsenal, não só tornou inequívoco o triunfo do FC Porto, como tornou incontesta­da a manita que impôs ao arquirriva­l para o qual olhou de forma impiedosa. Isto porque Conceição continua a agigantar-se perante as contendas mais complexas, apresentan­do ajustes estratégic­os cruciais, fruto de uma análise detalhada do oponente, que robustecem um modelo de jogo que se torna ainda mais cabal e cadenciado. Depois, em jogos desta dimensão, sabe transmitir a mensagem aos jogadores, que aceitam o desafio da superação pela vontade indómita de triunfar. O que se torna mais maiúsculo quando o rival é o Benfica ou quando penetram no universo mais elevado da Champions, garantindo aí, pelo me- nos, alta competitiv­idade.

2 Sem surpresa, os dragões superaram a medíocre primeira pressão dos encarnados. Afiançando, através da participaç­ão de Diogo Costa como líbero, de Otávio como central constru- tor, ou do recuo de Varela, também sagaz a receber a bola de forma orientada nas costas dos dois avançados, superiorid­ade na construção. Mais à frente, o fito passava por atrair a pressão caótica do Benfica para um lado e girar a bola para o corredor oposto, onde João Mário, Pepê e Francisco Conceição foram avassalado­res a urdirem combinaçõe­s, a produzir desequilíb­rios ou a alimentar zonas de finalizaçã­o. Tanto a partir de situações de igualdade, como de superiorid­ade numérica. Ou, na etapa complement­ar, ao forçar o encon- tro da bola com Nico no corredor central. Capaz de receber sem a pressão dos médios rivais, o que possibilit­ou, através da sua qualidade de passe e leitura, que o FC Porto fruísse de inexplicáv­eis situações de superiorid­ade (5x4) no assalto ao último ter- ço, como a que redundou no 3-0, ou atacando-lhes as costas em progressão antes de soltar o passe de rutura, como sucederia no 4-0 de Pepê. Junta-se ainda a sagaci- dade corrosiva como os dragões pressionar­am as duas primeiras fases de construção dos encarnados, tornando ainda mais árdua a fluidez nas ligações. Com a curiosidad­e de ter sido menos belicosa sobre Trubin, António Silva e Otamendi, mas veemente quando a bola entrava – e já dificilmen­te saía limpa – nos laterais Morato (Conceição) e Aursnes (Galeno), nos médios Neves (Nico) e João Mário (Pepê), e nos recuos do segundo-avançado Rafa (Va- rela).

3 Schmidt continua a não apresentar resposta para as especifici­dades dos jogos desta dimensão, tornando-se cada vez mais inequívoco que o trabalho de observação dos oponentes é inexistent­e, o que torna impossível a realização de ajustes estratégic­os. A ima- gem que melhor define o trabalho do alemão neste exercício é que a debacle do Dragão podia ter acontecido em qualquer mês precedente. E, pior, se não houver uma mudança de rumo, poderá voltar a acontecer em março, abril ou maio, apartando o Benfica da conquista dos três títulos e troféus a que pode almejar. Isto porque os comportame­ntos coletivos não seriam – nem parece que venham a ser – diferentes. Nem na realização de ajustes estratégic­os, mas principalm­ente na imposição do modelo de jogo. O que contraria uma das razões pelas quais Rui Costa o contratou e lhe renovou contrato, após uma primeira estação em que mereceu encómios que não poderão ser olvidados. Só que apesar de Schmidt, em 2023/24, ter assegurado dois triunfos ante o FC Porto, à qual juntou a reviravolt­a nos descontos diante do Sporting, o Benfica nunca produziu exibições de excelência e perdeu imensa voracidade no assalto ao último terço e na contrapres­são. A participaç­ão sofrível na Champions, que está a ter prolongame­nto futebolíst­ico na Liga Europa, atestou-o.

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