De Espanha, nem bom vento...

A comunicação e as televisões dos principais clubes portugueses têm, já se sabe, mais blasfémias e perversões do que bondade e regozijo. Mas isso está longe de ser um transtorno apenas doméstico, como se percebe por uma polémica sem precedentes que, em Espanha, tem envolvido, nos últimos dias, a Real Madrid TV.

O canal televisivo dos madridistas terá decidido que a melhor forma de condicionar o trabalho das equipas de arbitragem era dedicar programas inteiros aos árbitros nomeados (incluindo o VAR) para os seus jogos. Aí, supostos especialistas enumeram, com recurso a imagens mil vezes repetidas, as diversas situações em que os juízes designados prejudicaram o Real Madrid em anos anteriores, tudo com a isenção e a equidade que se pode esperar de um canal de um clube…

A escandaleira foi enorme, mas as coisas aqueceram ainda mais quando o Sevilha decidiu apresentar uma queixa ao Comité Disciplinar da federação espanhola. A primeira denúncia não foi atendida, mas o Sevilha insistiu com uma exposição mais detalhada em que deixava claro que os videos “tratam de criar uma imagem de falta de profissionalismo e de antimadridismo” por parte dos árbitros.

Acusado de estar a provocar um “grave dano” ao futebol espanhol, o Real Madrid escuda-se na liberdade de expressão. Como se isso bastasse para o inocentar e deixar a salvo do artigo do código disciplinar que pune declarações que questionem a honradez e a imparcialidade de qualquer membro da equipa de arbitragem.

Volta a fazer sentido o provérbio que nos diz que “de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”…