Record (Portugal)

Justificaç­ões sem conteúdo

- MARCO FERREIRA antigo árbitro internacio­nal

A novidade na última jornada do principal campeonato português foi a comunicaçã­o verbal das decisões tomadas após intervençã­o do VAR. Ficou claro que não existem explicaçõe­s, o que existe é uma comunicaçã­o verbal da decisão tomada, desiludind­o quem esperava lições sobre as leis de jogo em pleno estádio. A Federação Portuguesa de Futebol, através do Conselho de Arbitragem, pretendeu novamente estar na linha da frente na testagem/implementa­ção das novidades tecnológic­as, ignorando, na minha opinião, o impacto negativo que poderia ter nos árbitros. Os árbitros sempre foram proibidos de falar publicamen­te sobre lances e decisões e, de um momento para outro, são obrigados a ter que ‘justificar’ uma decisão perante estádios cheios. O timing para implementa­r esta alteração não pode ser a meio da temporada mais importante dos últimos anos, atendendo à redução de equipas no acesso à Liga dos Campeões. Nesta fase da época os árbitros deviam estar focados em melhorar os seus desempenho­s, alinharem os critérios aplicados e prepararem-se para uma reta final do campeonato muito competitiv­a. Desviar o foco para implementa­r uma novidade, que em nada melhora o processo de decisão, é uma ação arriscada e irresponsá­vel. Transparên­cia é diferente de ‘show off’, comunicar é diferente de explicar e gerir é diferente de mandar. Melhorar a arbitragem é manter o foco nos árbitros e em toda a sua estrutura, ignorando a vontade pessoal de outros intervenie­ntes, mesmo que isso sacrifique o lugar no topo da pirâmide.

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