O DESPERDÍCIO FATAL DO LEÃO AUTORITÁRIO
Faltou definição ao Sporting para dar corpo ao resultado, num jogo em que foi muito melhor equipa
Uma história com interrupções aos elementos mais fortes que lhe deram forma ditou o afastamento do Sporting da Liga Europa. À exceção de um curto episódio com pouco mais de 15 minutos (os primeiros da segunda parte), foi verde e branca a tendência do jogo; a manifestação mais eloquente de supremacia entre duas equipas equilibradas; os dados mais fortes de autoridade em campo, postos em causa pela distração que inverteu o resultado e pelo desperdício final de quatro claras ocasiões de golo, marcadas por erros clamorosos de Edwards (84’ e 90’) e Paulinho (86’ e 89’). Foi mesmo incrível.
O Sporting esteve sempre por cima no jogo. Porque foi melhor em termos estratégicos; tinha a lição bem estudada; mostrou saber tudo sobre o modo como a Atalanta desenvolve o seu futebol e, como se isso fosse pouco, os seus jogadores ainda foram capazes de vencer a quase totalidade dos duelos individuais, espalhados pelo terreno, nomeadamente aqueles que se estabeleceram no miolo e na sua zona defensiva – o setor recuado, superiormente comandado por Gonçalo Inácio, revelou acerto elevado em todas as ações, apesar de algumas decisões infelizes e falhas cometidas por Diomande.
Então, o pecado leonino não foi tanto de desperdício, não passou por falta de eficácia em potenciais situações de golo; o que foi travando a afirmação plena da equipa de Rúben Amorim foi a falta de definição, os erros cometidos no último passe, aquele que estabelece a diferença entre um lance de perigo e uma intenção frustrada.
Aos 33 minutos, Pote abriu uma autoestrada onde só cabia uma ciclovia, pediu ajuda a Gyökeres e chegou por fim ao golo. Um momento agridoce para o jogador sportinguista, que pôs a equipa na frente do marcador, mas colocou ponto final ao sonho de regressar à Seleção – lesionou-se e nem disponibilidade teve para festejar o 16º (!) golo da época.
O primeiro minuto depois do intervalo foi determinante: momento de leveza coletiva lançou o duelo para parâmetros diferentes dos esperados. O golo de Lookman empatou e introduziu um dado surpreendente no jogo, mas não lhe alterou a feição. Ficou tudo na mesma, menos o resultado.
Mais relevante para a tendência global do confronto foi o 2-1 de Scamacca, a meia hora do fim. O Sporting sentiu o golpe, desarticulou-se por instantes e permitiu aos italianos um raro ascendente. Até ao fim, a equipa recompôs-se e resistiu ao visível cansaço de alguns jogadores importantes. De tal forma que a história de derrota difícil de explicar ainda teve as marcas do desperdício escandaloso, com quatro claras ocasiões falhadas junto à baliza italiana.