Record (Portugal)

As árvores morrem de pé

- HORA DO CHÁ Eládio Paramés

çO FC Porto foi eliminado da Liga dos Campeões pelo Arsenal, uma equipa mais rica, mais forte, mas que teve de passar pela marcação de pontapés desde a marca de penálti para conseguir seguir para a eliminatór­ia seguinte.

No dia seguinte,

eram unânimes os elogios aos homens orientados por Sérgio Conceição e também ao esquema táctico que o treinador tinha montado para, pelo menos, minimizar o maior poderio dos londrinos. “Dragões calam” o estádio, lia-se na primeira página de Record e, lá dentro, argumentav­a-se que a vitória ficara a dever-se à força do dinheiro, já que os portistas tinham metido os arsenalist­as no bolso.

Enfim, são opiniões e até são justas,

ainda que contenham algo de exagero. E ao lê-las veio-me à memória uma frase célebre dita por uma ainda mais célebre e saudosa Palmira Bastos, numa das mais importante­s peças de teatro emitidas pela RTP 1, nos tempos em que a televisão pública nos fornecia cultura : “Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores”..

Assim foi a equipa do Porto: morta por dentro,

consumida por problemas vários, entre os quais uma luta sem tréguas pelo poder, limitada pela escassez de dinheiro que tornasse possível acrescenta­r qualidade a um plantel muito escasso dela, ou uma anunciada partida do treinador. Fez-se o que se pôde, mas pode-se pouco, mesmo para consumo interno, como se comprova pela classifica­ção no campeonato. Esta é a realidade, por doloroso que seja aceitá-la, e o triunfo escandalos­amente robusto sobre o Benfica não a altera. É que o tempo das vitórias morais já passou, não conta para nada. E eu prefiro mil vezes ganhar no campo, ainda que esta seja uma vitória imoral, do que vir para casa cheio de moral, mas derrotado.

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