Record (Portugal)

O hábito que vem da habituação

AO CONTRÁRIO DO SPORTING, QUE TEVE A CLASSE DE ABANDONAR A LIGA EUROPA A TEMPO DE DEDICAR TODOS OS SEUS ESFORÇOS À CAMINHADA TRIUNFAL PARA O TÍTULO, COMETEU O BENFICA O DISPARATE – MAIS UM – DE PREENCHER O SEU CALENDÁRIO COM MAIS DOIS JOGOS INTERNACIO­NAIS

- Leonor Pinhão JOAQUIM EVANGELIST­A

A qualificaç­ão para os quartos-de-final da Liga Europa foi a pior coisa que podia ter acontecido ao Benfica. Foi um bocadinho isto que se ouviu discorrer em diversas plataforma­s na noite da última quinta-feira. O Benfica devia ter sido eliminado pelo Rangers encerrando, assim, em Glasgow a empreitada de horas-extra que se vê agora obrigado a cumprir por culpa de uma cabeçada arguta de Di María lançando Rafa para um sprint triunfal só ao nível de um velocista de exceção. Rafa, portanto, não está isento de culpas porque foi ele que fez o golo da vitória do Benfica. As leis do jogo, sendo uma entidade abstrata, também têm grossa culpa no infeliz apuramento do Benfica ao determinar­em que para haver off-side a ação tenha de ocorrer no meio-campo adversário. O que não ocorreu de todo no caso do golo de Rafa ainda que tenha sido necessário recorrer à tecnologia para se comprovar a legalidade geométrica do lance. Há leis que, de vez em quando, bem po- diam deixar de existir.

No entanto, o principal culpa- do pelo sarilho em que o Benfica se meteu não pode deixar de ser o seu treinador. Porquê? Porque sim. Por inerência de cargo só pode ter saído da sua cabeça a ideia de apostar em Florentino Luís, o médio com mais recuperaçõ­es de bola na última edição da Liga dos Cam- peões, atira ndo-o para o relvado de Ibrox Park a ver no que resultava. Resultou. Ao contrário do Sporting, que teve a classe de abandonar a Liga Europa a tempo de dedicar todos os seus esforços à caminhada imparável para o título anunciado, cometeu o Benfica o disparate – mais um – de preencher o seu calendário com dois jogos internacio­nais que não lhe faziam falta nenhuma nesta altura do campeonato. Talvez por isto se tenham ouvido mais sportingui­stas contentes com a qualificaç­ão do Benfica do que, propriamen­te, benfiquist­as contentes com o que a sua equipa fez na Escócia. Este ano tudo nos acontece, é o que é.

São tempos estranhos estes que vivemos. No mesmo dia, anteontem, viram-se mais benfiquist­as empolgados da parte da manhã com o anúncio do regresso do ex-presidente Bruno de Carvalho à vida associativ­a do Sporting do que benfiquist­as empolgados à noite com o apuramento da sua equipa para os quartos-de-final da Liga Europa. Foi a isto que chegámos. De quem é a culpa? A culpa é do hábito. Não do hábito que faz o monge, mas do hábito que vem da habituação. Pelo terceiro ano consecutiv­o o Benfica atinge os quartos-de-final de uma competição da UEFA – Liga dos Campeões em 2021/2022 e em 2022/2023 e Liga Europa em 2023/2024 – e é agora o único ‘intruso’ no quadro das duas competiçõe­s fora das cinco principais Ligas europeias. À força de extensas caminhadas europeias banalizara­m-se esses cometiment­os quando deviam ser elogiados. “Se queremos títulos, estas são as semanas decisivas”, disse o treinador do Benfica antes do jogo com os escoceses. Agora, aguente-se.

PELO TERCEIRO ANO CONSECUTIV­O O BENFICA ESTÁ NOS ‘QUARTOS’ DE UMA COMPETIÇÃO DA UEFA

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