Realidade paralela
Apesar da superioridade inequívoca no capítulo individual sobre o Toulouse e o Rangers, o Benfica atingiu os quartos da Liga Europa com um sofrimento inaudito, já que grande parte dos 360 minutos das duas eliminató- rias foram pautados por uma qualidade futebolística a roçar o soporífero. Ao contrário do que o ilusionismo verbal de Roger Schmidt pretende proclamar, os encarnados não foram convincentes em Ibrox, repetindo equívocos que já se tinham visto na primeira mão, e, principalmente, nos embates ante Sporting e FC Porto, que custaram derrotas amarguradas. Mesmo ante um oponente privado dos 4 melhores extremos, como também do médio-ofensivo e do avançado de mais qualidade, as águias manifestaram uma inenarrável falta de argumentos coletivos com e sem bola, o que só pode refletir um trabalho tático curto para um clube da sua dimensão. Assim, conseguem manter-se em três frentes graças à qualidade individual superlativa de algumas das suas unidades, quase sempre no aproveitamento de si- tuações em campo aberto. Foi as- sim que Rafa, após abertura de Di María, na sequência de um canto ofensivo do Rangers, avassalou meio-campo a altíssima velocidade para apontar o golo que definiu a eliminatória. Estávamos no minuto 66, e o Benfica, a partir daí, encontrou a confiança e o conforto para controlar a eliminatória, estancando a reação de um oponente fisicamente desgastado que, face à falta de ideias em ataque posicional além de um jogo direto, só se aproximou por mais uma vez do arco de Tru- bin. Só que seria falso restringir a análise da partida à derradeira meia-hora. Até aí, os comandados de Schmidt, mesmo procurando atrair a pressão de um rival belígero, nunca souberam como erigir vantagens para progredir no terreno de forma segura e apoiada, o que levava a que perdessem a bola de forma rápida, deixando os avançados, muitas vezes abandonados à sua sor- te, desligados dos companheiros. Além disso, as águias sentiram amplas arduidades sempre que os gers levaram o jogo para uma dimensão mais física, o que conduziu à perda de primeiras e de segundas bolas de forma angustiante. E se isso não chegasse, uma entrada abúlica na etapa complementar, quase permitiu que o Rangers, com as linhas mais subidas e mais contundência ofensiva, suportada num jogo direto e de cruzamentos permanentes, se adiantasse no marcador. O que mostrou que também o processo defensivo vive, em demasiados momentos, mais do individual do que do coletivo, que cedeu espaços, por dentro e por fora do bloco, de forma imberbe.