Passo a passo até ao estrelato
Com Darwin Núñez pode não haver amor à primeira vista, mas o avançado uruguaio aprendeu desde cedo a fazer do tempo um aliado. Em Liverpool não tem sido diferente.
A verdade é que a luta pela afirmação não é um território estranho para Darwin, que nunca foi o tipo de jogador que arrebata os adeptos logo à primeira impressão. Viveu a primeira grande mudança ainda na adolescência quando trocou Artigas, cidade natal na fronteira com o Brasil, pela capital Montevideu, a 600 km de distância, a fim de ingressar nas camadas jovens do histórico Peñarol. Por essa altura, o futebol uruguaio tinha duas das maiores referências do futebol mundial no que à arte de marcar golos diz respeito. Luís Súarez e Edison Cavani. Darwin ambicionava seguir-lhes as pisadas, mas não era visto como um sucessor natural dessa dupla. Estreou-se na equipa principal do Peñarol em novembro de 2017, com 18 anos, e no ano seguinte – o primeiro a tempo inteiro como sénior – ficou-se por um registo modesto de um golo em 13 jogos. Mas muito na história de Núñez não condiz com o trajeto comum das promessas sul-americanas.
A porta para a Europa abriu-se em Almería, para jogar a 2.ª liga espanhola. Mais uma vez, demorou o seu tempo para se estabelecer – foi já no final de outubro que passou a titular – mas provou o seu valor. 16 golos que atraíram o interesse do Benfica. Na Luz assumiu que queria “ser um ídolo” e prometeu golos. Precisou, contudo, de uma época para explodir. Aos 14 remates certeiros na época de estreia – ainda tapado por um grande ano de Seferovic (22) – seguiram-se 34 golos em 41 jogos em 2021/22. Números que chamaram a atenção de um certo treinador.
Conquistou Jürgen Klopp
Quis o destino que, nessa época, o Benfica encontrasse o Liverpool na Liga dos Campeões. As águias acabaram eliminadas, mas Darwin ganhou o seu bilhete para a Premier League. “É um grande avançado. O próximo do Uruguai. É um talento incrível, vi o golo dele em Amesterdão, contra o Ajax, e foi fantástico”, disse Jürgen Klopp depois do jogo da 1.ª mão dos ‘quartos’, em Lisboa, em que Darwin marcou. O namoro ficou oficializado no verão. Foram 85 M€ que fizeram dele o uruguaio mais caro de sempre, batendo os 80 M€ pagos pelo Barcelona por Suárez. Herança pesada para um ainda jovem avançado – tinha então 23 anos – que acabou por acusar a pressão. Se o verão deixou claro que seria necessária uma adaptação, a época trouxe muitos altos e baixos. O contexto era difícil, com os adeptos à espera de um substituto de Sadio Mané, enquanto o Liverpool atravessava uma época de renovação. Acabou por contribuir com 14 golos – mais do que os de Mané (13) no ano de estreia – para uma campanha que terminou num modesto 5º lugar na Premier e sem títulos, além da Supertaça erguida em agosto.
Tempo de mudança
Esta época começou a mudança. O início foi lento – oito golos até ao virar de ano – mas 2024 trouxe uma nova vida. Darwin só não contribuiu diretamente para golos em quatro dos primeiros 14 jogos do ano, somando 9 golos e 4 assistências... a melhor fase desde que chegou. A pressão de replicar números astronómicos parece ter deixado a mente do uruguaio, colocando-o mais perto desse caminho. E não são só golos. Quando não está a rematar – era, ao final da 1.ª volta, o jogador com mais disparos por jogo (4.66) – tem-se provado uma ferramenta para criar espaços para Salah ou Diogo Jota. Uma versão mais madura de um Darwin que, aos 24 anos, vai conquistando cada vez mais adeptos e afirma-se como estrela do Liverpool.
CHEGOU À EUROPA PARA JOGAR A 2.ª LIGA ESPANHOLA. ATRAIU O BENFICA, CONVENCEU KLOPP E AGORA CONQUISTA ANFIELD