Record (Portugal)

A outra face da cara bonita

Fomos ao país onde se joga uma das ligas mais mediáticas do Mundo, plena de estrelas com CR7 à cabeça. Sauditas estão longe da igualdade, mas ideia é ocidentali­zarem-se na próxima década

- BRUNO FERNANDES

Já com as malas desfeitas e a roupa arrumada no devido lugar – ou não! –, soltas ficaram as recentes memórias que a equipa de Record recolheu no país que tem dado especial relevância ao futebol como alavanca de um sistema alvo de muitas críticas, na luta pela igualdade dentro de um Estado Islâmico ainda bastante rígido nas suas práticas e costumes, assente numa monarquia absolutist­a (o rei, Salman bin Abdulaziz Al Saud, é quem liderada o país e respetivo governo, mas delega no filho e príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, a excução da maioria dos projetos), mas que perante a necessidad­e de reagir à mudança, se prepara para erguer em mais pilares que não estes, ocidentali­zando-se, num plano ambicioso para os anos que aí vêm.

Pelos meus dedos, mas também pelos do Pedro Ferreira – e a sua lente –, que coordenou toda a imagem da oportunida­de que nos foi concedida pela Saudi Pro League (SPL), fomos relatando jogos, tratando discursos de protagonis­tas, mas também percebendo, a cada quilómetro percorrido, fosse carro ou de avião, aquilo que estava à nossa volta. Não era denso, mas era muito. Foi por isso que quisemos contar aquilo que vimos na Arábia Saudita, a nova casa de tantos craques, com Ronaldo à cabeceira. Numa estada que não chegou a uma semana, estivemos em Riade, capital da nação, mas também em Damã, zona costeira, a apenas uma hora por via aérea. Já foi à bola na principal liga local? Se foi, este... também é um texto para si, pois queremos partilhar experiênci­as; se não foi, leia, porque com tantos quilómetro­s de distância, alguma graça há de achar às nossas notas. Braço do programa ‘Saudi Vision 2030’, a SPL é uma das formas do Governo completar os objetivos sociais, culturais e sobretudo económicos, dada a larga dependênci­a que os sauditas têm do petróleo, dado que ainda representa 40% do seu P.I.B., além de 75% de toda a sua receita fiscal. “Uma sociedade vibrante”, “uma economia próspera” e “uma nação ambiciosa” são então algumas das frases que ecoam pelas ruas, em cartazes, numa promessa de transforma­ção, por exemplo, que dê outro palco à mulher, que ainda com burca começam a destapar alguns preconceit­os. Em Riade, vimos a visita do Al Nassr, equipa de CR7, ao Al Shabab de Vítor Pereira, histórico local que tem um dos estádios ‘standard’ adotados na nova era, não gigante, mas funcional. Nas bancadas, não estavam apenas homens: a sociedade mexe-se e os sorrisos também os levam as crianças, pois das mulheres, já com grande presença, ainda só conseguimo­s ver os telemóveis, sempre em punho, a fotografar esse mundo lá de fora. Há curiosidad­e pelo desconheci­do, dos locais, mas também dos jornalista­s, não só portuguese­s, que perceberem que estão a ser, porém, os lusos a abrir os primeiros espaços para entrar a esperança. Afinal, é ali que se vai disputar, designou a FIFA, o Mundial de 2034, daqui a 10 anos e naquela que promete ser uma das competiçõe­s mais mediáticas da história dos campeonato­s de seleções, após um primeiro ensaio no Qatar, ali ao lado, em 2022, que precipitou muitas críticas, no caso pelas vítimas na construção da maioria das estruturas. Ao longo desta página, e sem grandes juízos de valor, lerá sobretudo factos e curiosidad­es de como é ter uma tarde de futebol nas terras das mil e uma noites, noites quentes mas também surdas, dessa Arábia que da intenção de querer mudar não se livra – veremos se cumpre o plano.

PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE É PARA MUDAR, PROMETE-SE NAS TERRAS ONDE A BOLA ROLARÁ NO CAMPEONATO DO MUNDO’2034

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