O divórcio no Dragão
çAndré Villas-Boas tem-se esforçado por respeitar as memórias e as conquistas de Pinto da Costa à frente do FC Porto, ao mesmo tempo que critica, sem piedade, a sua gestão, na área financeira, mas não só. É um equilíbrio difícil de manter, por ser quase um paradoxo. Para uns espelha apenas o profundo respeito que Villas-Boas mantém pelo “presidente dos presidentes” e também a consciência de que algo tem de ser feito para evitar a queda iminente no abismo. Mas, para outros, esta suposta antinomia não passa de um endiabrado planejamento e mera tática eleitoral, que justifica os ataques violentos ao treinador que deixou a sua “cadeira de sonho”. Pinto da Costa, já se sabe, preferia enfiar o dedo no afia lápis e dar à manivela do que aceitar como boa a primeira hipótese. E é isso que explica as reações viperinas do atual presidente, seja o “vai chamar pai a outro” ou o “não fui eu que mudei” (o que não é bem verdade, porque ambos alteraram as posições iniciais relativamente às respetivas candidaturas). É também essa reação epidérmica e sisuda que justifica que Pinto da Costa insista em avançar com soluções (quer financeiras quer em termos da localização da academia na Maia) que chocam com as ideias de Villas-Boas. E este tem razão quando diz que a proximidade das eleições aconselhava maior ponderação.
A questão é que estes transtornos eleitorais estão a ter, como consequência, o fracionamento entre os adeptos.
O roubo das tarjas das claques do museu e a reação de protesto destas últimas na receção ao Vizela deixaram claro o divórcio. Mas houve pela menos um benefício, bem patente quando as claques optaram pela mudez e até pela momentânea retirada: os restantes adeptos responderam como raramente se vê no apoio à equipa. Ora, são estes últimos adeptos que pagam as quotas, que compram os bilhetes (nas bilheteiras, entenda-se) e adquirem as pipocas nos bares do estádio. E são eles que vão votar.