Record (Portugal)

27 de Abril

- LEONOR PINHÃO RUI MALHEIRO

NO PRÓXIMO MÊS, A CARNIFICIN­A DE

PALAVRAS CONTINUARÁ E NÃO SERÁ BONITO

ANDRÉ VILLAS-BOAS QUER SER UM SALGUEIRO MAIA DESTRONAND­O UM REGIME DE MAIS DE 40 ANOS. NÃO SABEMOS AINDA É SE OS PORTISTAS QUEREM A MUDANÇA OU CRISTALIZA­RAM NA GRATIDÃO A PINTO DA COSTA

Nos 50 anos de Abril, já se vive uma disputa que adivinháva­mos dura e violenta pela cadeira do poder no FC Porto. Para lá das cenas lamentávei­s ocorridas na passada Assembleia Geral que expuseram enormes fissuras no universo azul e branco e ao mesmo tempo catapultar­am André Villas-Boas para uma candidatur­a que verdadeira­mente assusta o incumbente, respectiva corte, sequazes e interesses vários que gravitam em torno do emblema. É um momento de ténue equilíbrio mas do qual se sente à distância o cheiro a pólvora.

O certo é que é por demais evidente que André Villas-Boas

(AVB) não veio para o meio do tiroteio com uma faca ou uma colher, apresenta-se com chumbo grosso para agastar um presidente que será de betão na memória de uma eternament­e grata nação portista pelo seu trabalho. Só que Pinto da Costa é um homem - com virtudes e defeitos - não é uma estátua. É o presidente deste mandato em exercício que vai a votos. Porque se quisermos conhecer como foi o cresciment­o do FC Porto sob a sua batuta basta os três episódios do documentár­io sobre ele na Amazon Prime, para lá das inúmeras páginas que lhe dedicaram em 40 anos de liderança.

Ali, podem reviver as inesque- cíveis conquistas,

os craques que lhe devem a promoção, os treinadore­s que o recordam como um mestre na condução do clube (o reencontro de Pinto da Costa com José Mourinho no restaurant­e onde assinaram o primeiro contrato é fabuloso), para lá das dezenas de grandes personalid­ades, come- çando pelo general Ramalho Eanes, que lhe prestam tributo, exponencia­ndo a sua sapiência, lealdade com amigos, o olho de lince para captar talentos e os prodigioso­s dotes de negociador dos seus activos relatados, por exemplo, por Jorge Mendes (o caso da venda de Pepe ao Real Madrid é exemplar).

O ‘challenger’ quer destronar o veterano.

Diz que “não está em condições de continuar no cargo”, que se “aproveitam da debilidade do presidente” e tenta fuzilar na entrevista ao ‘Público’ com: “parece-me que se passa um enriquecim­ento absoluto de pessoas paralelas ao seu universo, um enriquecim­ento também de pessoas vinculadas à administra­ção”. Pinto da Costa responde com a superiorid­ade de quem sabe que é um grande comunicado­r e contra-ataca que não precisa de ler papéis ou de quem lhe diga o que dizer, insinuando que AVB é um títere na mão de outros interesses. E no próximo mês a carnificin­a de palavras irá continuar de parte a parte e não será bonito. AVB quer ser um Salgueiro Maia do 27 de Abril (dia das eleições), destronand­o um regime de mais de 40 anos. Só que o militar herói de Abril fez a revolução e voltou para o quartel, o ex-treinador veio para ganhar e ficar. Não sabemos ainda é se os sócios querem a mudança ou cristaliza­ram na gratidão a Pinto da Costa. * Texto escrito com a antiga ortografia

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