“Jogar no Seis Nações seria um tiro no pé” JOSÉ LIMA
Um dos lobos mais experientes faz questão de salientar que a realidade da Seleção não reflete os problemas do râguebi nacional
Apesar da brilhante campanha no Mundial de 2023, onde Portugal foi a grande sensação, José Lima, um dos jogadores mais experientes dos lobos, não concorda com a ideia de que a evolução da equipa deveria passar – como sugeriram muitos comentadores da modalidade (nomeadamente britânicos) -por um eventual convite (extensivo à Geórgia) para integrar o mítico torneio das Seis Nações. “Primeiro, é preciso ter noção de que essa competição é privada, não se trata de uma espécie de Campeonato da Europa, não é acessível a todos. Mas, de forma muito sincera, não creio que estivéssemos preparados para isso. A Seleção é uma coisa, mas o râguebi português é outra. São dois mundos, dois níveis, completamente diferentes”, refere. “Conseguimos resultados extraordinários no Mundial porque, pela primeira vez, nos preparámos durante três meses. E tínhamos um grupo de jogadores profissionais na ordem dos 70 a 80%. Mas, a realidade dos clubes nacionais está muito longe disso, não é sequer semi-profissional. De resto, não temos um número de jogadores suficientes para dar esse passo. E os poucos com grande qualidade, que jogam lá fora, nem sempre poderiam estar presentes devido a impedimentos dos seus clubes. Seria um grande choque e somando tudo talvez fosse mais negativo do que positivo, um tiro no pé. Mesmo para a Geórgia, que está num patamar superior ao nosso, seria complicado”, explica, convicto. Mas, claro, José Lima concorda que o crescimento sustentado da Seleção terá de passar pelo aumento do número de jogos com equipas de nível elevado. “Antes do Mundial, num período de quatro anos, só fizemos dois jogos (Itália e Japão) com formações do top 10. Falta-nos essa experiência. Acredito que foi isso que nos impediu de conseguir ainda melhores resultados em França”, recorda.
Perante isto, então qual seria o enquadramento mais favorável para ajudar a Seleção a ir aproximando-se do nível dos mais fortes? “Provavelmente, a criação de um patamar intermédio entre o Seis Nações e o European Championship onde temos competido. Não quero parecer arrogante ou dizer que estamos ao nível deles, mas talvez a Itália também beneficiasse mais a jogar noutro enquadramento, já que no Seis Nações é muito complicado para eles. Da mesma forma que nós, Geórgia e Roménia estamos consideravelmente acima dos demais países europeus”, atira, acrescentando que, fora essa competição regular, seria igualmente importante realizar partidas com outro tipo de opositores, conforme acontecerá no verão, quando Portugal medir forças com a África do Sul. “Por mais que se treine, não dá para evoluir sem jogar e competir com os melhores”.
Mas, independentemente do que possa vir a suceder no futuro, José Lima congratula-se com o súbito interesse pela modalidade em Portugal. “É o que mais interessa para nós, ver as pessoas a falar de râguebi, a irem aos estádios,
“RESULTADOS NO MUNDIAL SÓ FORAM POSSÍVEIS PORQUE NOS PREPARÁMOS DE FORMA PROFISSIONAL DURANTE 3 MESES” “O QUE MAIS INTERESSA PARA NÓS É VER OS PORTUGUESES A FALAR DE RÂGUEBI, A GOSTAREM DE ASSISTIR AOS NOSSOS JOGOS”
a quererem saber quando são os jogos da Seleção. Nós, durante o Mundial, através das redes sociais, íamos percebendo o entusiasmo que existia junto das pessoas ligadas à modalidade, mas só quando voltámos e vimos aquela multidão toda no Aeroporto é que percebemos o verdadeiro impacto. Nunca pensei, em Portugal, ver as pessoas a irem ter connosco para dizer que assistiram aos jogos e que mesmo sem perceberem as regras adoraram ver-nos a ganhar aos grandalhões”. *