Renúncias para todos os gostos
Entre explicações mais simples como a vontade de passar mais tempo com a família, casos com política à mistura ou episódios inusitados, não faltam razões que levam os jogadores a abdicar precocemente
Não faltam motivos e histórias por detrás das renúncias mais mediáticas. Há explicações mais simples, como a de querer passar mais tempo com a família ou simplesmente ter mais tempo para descansar perante a sobrelotação do calendário. Mas também não faltam casos polémicos e episódios mirabolantes. Quando a seleção ainda era território sagrado para todos os jogadores, o alemão Gerd Müller surpreendeu tudo e todos ao deixar a equipa da Alemanha Ocidental logo após a conquista do Mundial’1974. A razão foi, no mínimo, inusitada. O goleador não gostou que as mulheres dos jogadores não se pudessem juntar a eles durante os festejos – ao contrário das esposas dos dirigentes da federação – e levou a insatisfação ao extremo, deixando a seleção aos 28 anos para nunca mais voltar. Depois do adeus, ainda fez mais 158 golos pelo Bayern em quatro épocas e meia. O pragmatismo germânico faz com que seja um dos países com maior incidência de abandonos precoces. Phillip Lahm despediu-se aos 30 anos, depois de vencer o Mundial’2014, argumentando que o seu trabalho “estava feito” e era altura de dar lugar aos mais jovens. Também há quem volte atrás, como Toni Kroos que regressou este ano às convocatórias depois de anunciar a renúncia em 2021.
Quando a política interfere
Mais grave foi o caso de Mesut Özil, que saiu de rompante em 2018 acusando a federação de “falta de respeito” e “racismo”. O médio tinha posado com Recip Erdogan, presidente da Turquia – seu país natal – e apesar de ter negado qualquer conotação política, não se livrou de um coro de críticas... adensado pela eliminação precoce no Mundial. Insatisfeito com a falta de apoio da federação, saiu aos 29 anos. A relação de Gerard Piqué com a seleção espanhola foi sempre de amor e ódio. Ávido defensor da independência da Catalunha, o central jogou mais de 100 vezes pela ‘roja’, mas anunciou que se ia despedir após de ter sido acusado de cortar as mangas do equipamento... para não exibir a bandeira espanhola.
“Foi a última gota. O Mundial da Rússia será a minha última prova. Por este e muitos outros episódios”, anunciou em 2016, cumprindo a promessa dois anos depois.
Polémica com o selecionador
Kevin-Prince Boateng sempre teve tanto de genial como de polémico e a sua passagem pela seleção do Gana – que escolheu representar, ao invés da Alemanha – é prova disso. Apareceu com pompa e circunstância como ‘reforço’ para o Mundial’2010, renunciou em 2011, voltou para o Mundial’2014... mas deixou a equipa a meio da prova, após troca de insultos com o selecionador Kwesi Appiah, para nunca mais voltar.
Ingleses têm outras prioridades
Inglaterra é campeã nas renúncias por motivos pessoais. Fustigado por lesões, Alan Shearer disse adeus aos ‘três leões’ com 29 anos. Depois da desilusão no Euro’2000 preferiu resguardar-se. Paul Scholes saiu em 2004 para passar mais tempo com a família e ainda jogou mais nove épocas no Man. United. Jamie Vardy apresentou o mesmo motivo em 2018 e James Milner saiu agastado com a falta de minutos no Euro’2016, antes de atingir o pico da carreira no Liverpool. Este ano, foi Ben White a dizer “não” à chamada. Em França, Frank Ribery e Samir Nasri alegaram razões pessoais para deixar os ‘bleus’ em 2004. Este ano foi a vez do central Varane despedir-se aos 30 anos. Em Itália, Francesco Totti disse querer concentrar-se na Roma e disse adeus em 2007. *
GERD MÜLLER DEIXOU A SELEÇÃO DA ALEMNHA OCIDENTAL POR CONTA DE UMA PROIBIÇÃO NOS FESTEJOS DO MUNDIAL’1974