Boas promessas, mas sem um real teste
NA QUALIDADE E NA VARIEDADE DE MEIOS
HUMANOS, TALVEZ SÓ A FRANÇA SE NOS EQUIPARE
A melhor série de triunfos de Portugal (numa qualificação e na história da Seleção), bem como as cinco goleadas por quatro ou mais golos não garantem, por si só, troféus e medalhas. Mas, mais do que os resultados e os recordes estatísticos, as boas exibições somadas sob a regência de Roberto Martínez contribuíram de forma indelével para a onda de positividade que os portugueses transparecem a menos de três meses de distância do Europeu na Alemanha. Ora, isso acaba por decor- rer naturalmente de uma equipa com talento para dar e vender, que se diverte a jogar e que nos entretém a vê-la desfrutar, coeficientes que nem sempre se agregaram no passado. Por muito que as coisas nos tenham corrido bem no Euro’2016, não jogar bem e sonhar com títulos é tão normal e comum como enfiar a mão num saco de serpentes venenosas na esperança de apanhar uma lampreia…
O prenúncio mais recente deste misto de confiança e sonho
deu-se na recente vitória gorda (5-2) sobre a Suécia, no primeiro dos cinco jogos de preparação. Nem tudo correu de forma primorosa (aqueles dois golos sofridos…), nem isso era presumível se levar- mos em conta a convocatória ini- cial de 32 jogadores e os sub-grupos e as experiências pré-anunciados pelo seleccionador tanto para esse jogo como para o de hoje na Eslovénia. De facto, Portugal até sentiu dificuldades iniciais em lidar com a pressão alta dos suecos. Mas os problemas na saída de bola (Rui Patrício já não está em idade de melhorar o jogo com os pés) e na primeira fase de construção (onde Palhinha se co- locava ligeiramente à frente de uma linha formada por Nuno Mendes, Rúben Dias e Pepe, porque Nélson Semedo rapidamente se projectava no corredor direi- to, na mesma linha subida em que se colocava Rafael Leão do outro lado) rapidamente se resol- veram quando Portugal passou a executar o plano de voo previamente ensaiado. Isso ficou bem patente, por exemplo, no terceiro golo: Palhinha foi célere a lançar longo para Nélson Semedo e este, após ultrapassar o adversário, as- sistiu primorosamente para a finalização fácil de Bruno Fernandes.
Na última meia hora, Portugal perdeu fiabilidade defensiva (Toti Gomes cometeu erros e Bru- ma definiu quase sempre mal), mas na maior parte do tempo viu- -se uma Seleção organizada, agressiva e criativa.
Não se confirmaram as informa- ções de que Portugal iria regres- sar ao 3x4x2x1
utilizado até ao jogo na Islândia (4ª jornada de qualificação), talvez por Martínez ter sabido antecipadamente que o dinamarquês Tomasson, que se estreava à frente da seleção sueca, iria deixar cair o 4x4x2 em que até aí se organizava sob a direção de Janne Anderson, preferindo apostar no 4x2x3x1 que normalmente perfilha. Portugal repetiu assim o 4x3x3 que vigorou maiori- tariamente desde que Martínez deixou de insistir no esquema de três centrais (a excepção aconteceu na penúltima jornada de qua- lificação, no Liechtenstein). Mas, a exemplo do que fazia à frente da
Bélgica, tudo pode voltar à primeira forma a qualquer momento, designadamente nos confrontos de maior dificuldade no Euro.
A Suécia falhou estrondosamente a qualificação
para o Europeu, mas, provavelmente, tem mais e melhor matéria-prima do que qualquer um dos adversários que Martínez encontrou até agora. Prova-o até o seu ranking na UEFA (24º), bem melhor do que o da Eslováquia (28º), Bósnia (39º), Liechtenstein (40º), Islândia (41º) e Luxemburgo (43º). E, independentemente do desfecho final, Tomasson deu-lhe competitividade e alguns conceitos interessantes, designadamente na construção ofensiva.
Isso não invalida que a real capacidade de Portugal
continue sem ser verdadeiramente testada. A seleção lusa é hoje uma das melhores da Europa. Ao nível da qualidade e da variedade dos recursos disponíveis, talvez só mesmo a França se lhe equipare. Mas os jogos de preparação que se seguem com Eslovénia, Finlândia, Croácia e Irlanda só devem representar verdadeira oposição frente aos croatas, mesmo que estes já não tenham a pujança de outros tempos. A opção pode fazer sentido para preparar os jogos a doer com a Chéquia e a Turquia e com o terceiro adversário (ainda por apurar). Mas não permite apurar a fiabilidade para as fases seguintes da prova, quando o grau de dificuldade aumentar. Mais tarde se descobrirá se foi ou não uma má escolha…