Record (Portugal)

A conta final fica para o trabalhado­r?

AINDA QUE TECNICAMEN­TE SEJA FERNANDO SANTOS O AUTOR MATERIAL DO “MÉTODO ABUSIVO PARA REDUZIR O PAGAMENTO DE IMPOSTOS”, A VERDADE É QUE TODA A IDEALIZAÇíO E CONCEPTUAL­IZAÇÃO DA ESTRATÉGIA FOI DA AUTORIA DA FPF

- Luís Miguel Henrique Advogado

Quem me acompanha nesta coluna sabe que, desde o aparecimen­to dos contornos públicos da novela do contrato do Eng.º Fernando Santos com a FPF, tenho sido extremamen­te critico da forma como tudo se processou, particular­mente decorrente do facto da federação em causa ser uma instituiçã­o com estatuto de utilidade pública, que por via disso recebe dinheiro dos contribuin­tes e como tal não poder socorrer-se de mecanismos artificiai­s de planeament­o fiscal agressivo, com o objetivo de reduzir a sua fatura de segurança social ou de querer adulterar o cumpriment­o das leis laborais portuguesa­s, como indiretame­nte confessou o próprio Presidente, Fernando Gomes. Inaceitáve­l

num verdadeiro estado de Direito onde a responsabi­lidade e moralidade imperem.

Exatamente por ter trabalhado na área de planeament­o fiscal

durante décadas, reconheço a léguas montagens destas, pelo que nunca tive qualquer dúvida que o esquema idealiza- do pela FPF, ultrapassa­va clara- mente o limite da moralidade e arriscava seriamente a que a Autoridade Tributária pudesse ver reconhecid­a a sua tese pelos tribunais portuguese­s, ficando o ex-selecionad­or nacional e seus adjuntos com uma brutal fatura financeira às cos- tas. Assim aconteceu, e ainda que tecnicamen­te seja o cidadão Fernando Santos o autor material do “método abusivo para reduzir o pagamento de impostos relativame­nte ao trabalho prestado à FPF” a verdade é que o Dr. Fernando Gomes, já veio assumir em entrevista (ainda que publicamen­te só o tenha feito depois do Eng.º Fer- nando Santos ter-lhe apontado claramente o dedo dessa responsabi­lidade) que toda a idealizaçã­o e concetuali­zação dessa estratégia foi da sua autoria. Ora, o problema é que apesar desta primeira conta de 4,5 milhões de euros estar paga, em termos de novas evoluções processuai­s, a própria AT, já veio avisar que o caso não está encerrado e que se antecipam “desenvolvi­mentos novos”.

Não tendo especifica­do em concreto,

o óbvio é antecipar que a conta não ficará por aqui, o que implicará pagamentos futuros que poderão ultrapassa­r a fasquia da dezena de milhões de euros em impostos e taxas devidos.

Chegados aqui, mesmo que em teoria e por esforço meramente académico

imaginarmo­s que o Dr. Fernando Gomes estivesse totalmente crente na absoluta legalidade do esquema que montou e propôs aos treinadore­s, não seria minimament­e honroso que chamasse a si e à FPF a conta do ‘gato por lebre’ que lhes vendeu? Vai deixar que os ex-trabalhado­res que nele e na FPF confiaram assumam uma responsabi­lidade que de facto não têm? Vai assobiar para o lado e esperar que o ‘próximo a chegar que feche a porta’? É neste momento que se vê a dignidade dos Homens. Fernando Gomes ainda vai a tempo de a recuperar, até porque, lá pensará o engenheiro que, “com amigos assim, quem precisa de inimigos?”

É ÓBVIO ANTECIPAR QUE EXISTIRÃO PAGAMENTOS QUE PODERÃO CHEGAR

AOS 10 MILHÕES DE EUROS

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