Record (Portugal)

A sina dos jogadores pré- -balzaquian­os

NO BENFICA EXISTE UMA DISCUSSÃO SOBRE O QUE DI MARÍA OFERECE EM COELHOS TIRADOS DA CARTOLA – A VITÓRIA NA SUPERTAÇA É-LHE MAIS DO QUE DEVIDA – POR CONTRAPONT­O AO QUE TIRA EM EQUILÍBRIO, POSSE DE BOLA E SOLIDEZ DEFENSIVA

- JOAQUIM EVANGELIST­A

Cristiano Ronaldo e Ángel Di María. Ou Ángel Di María e Cristiano Ronaldo, como preferirem, estiveram durante a semana ao serviço das suas seleções. O jogador do Benfica, aos 36 anos, foi a figura maior da Argentina no jogo com a Costa Rica. Marcou um grande golo na conversão de um livre direto a uma distância consideráv­el da baliza e, na execução de dois pontapés de canto, serviu os companheir­os com duas assistênci­as para golo. Quanto ao jogador do Al-Hilal não se pode dizer que tenha sido a figura maior da Seleção na Eslovénia, mas foi a figura central. Aos 39 anos, Cristiano Ronaldo cumpriu os 90 minutos sem notas de fulgor não deixando de ser o centro das atenções tendo em conta que um adepto esloveno invadiu o campo para o abraçar e que, depois do final, o capitão de Portugal não regressou ao balneário sem antes ter protestado exuberante­mente com os árbitros.

A jogar em Portugal também

Di María protesta muito com os árbitros ainda que não tão exuberante­mente quanto Cristiano Ronaldo que tem outro estatuto, um estatuto único. No entanto, estes dois pré-balzaquian­os, Di María e

Cristiano Ronaldo, têm muito em comum nesta fase das suas carreiras. Quando um ou o outro assinam lances sober- bos, golos espetacula­res, assis- tências incríveis, a imprensa regista esses cometiment­os como coelhos tirados a cartola, expressão popular que con- sagra atos episódicos de espantar. É esta a sina dos pré-balzaquian­os de exceção. Não se lhes podendo exigir o que se lhes exigia em campo há uma ou duas décadas, todas as proezas que agora cometem – e não são assim tão poucas – são classifica­das como fenómenos de arte mágica, a maneira mais inspirada de se dizer que, impossibil­itados de cavalgar durante uma hora e meia por força da idade, podem resolver um jogo num segundo.

No Benfica, correnteme­nte,

existe uma discussão sobre o que Di María oferece à equipa em coelhos tirados da cartola – a vitória na Supertaça é-lhe mais do que devida – por contrapont­o ao que Di María retira à equipa em equilíbrio, posse de bola e solidez defensiva. As opiniões vão seguindo os resultados porque no futebol só os resultados mandam no campeonato das opiniões. O antigo jogador neerlandês Youri Muder tem, por exemplo, opinião firme sobre a eficácia do atual Cristiano Ronaldo na equipa nacional: “Portugal é mais forte sem Ronaldo. Ele recebe toda a atenção e isso é desestabil­izador.” A idade iminenteme­nte balzaquian­a poder ser muito cruel nesta profissão.

O guarda-redes do Chaves tirou ontem três coelhos da

cartola defendendo três penáltis na Luz e teve de ser um adolescent­e a resolver o jogo a favor do Benfica com um elegante golpe de cabeça aplicado de costas para a baliza. Haja João Neves, o sem idade.

DI MARÍA E RONALDO

TÊM MUITO EM COMUM

NESTA FASE DAS SUAS CARREIRAS

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