Record (Portugal)

A sublevação do Dragão…

A VITÓRIA AVASSALADO­RA DE AVB NÃO FOI IMPOSTA PELAS GERAÇÕES MAIS NOVAS. E MOSTRA QUE O CLUBE ESTÁ MENOS DIVIDIDO DO QUE ERA ANUNCIADO

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MANTER SÉRGIO PARECE TÃO DIFÍCIL COMO

TRANSFORMA­R UM PICKLE

DE VOLTA NUM PEPINO…

O Sporting sobreviveu, com algum afortuna, às maisdu raspe nas, mas nem por issoRú-ben Amorim deixou de ser criticado no Dragão por usar Gonçalo Inácio no lugar do lesionado Matheus Reis( Nuno Santos já se habituou a ser preterido nos jogos mais difíceis ). Mas isso não explica os erros dogu arda-redes, o mau jogo deDio mande e o apagamento de Catam o e Pote, entre outros, porque salvaguard­ar o físico deumGyöker­es em risco até foi uma decisão lúcida. Bem pior foi Amorim nãot erres is tidoàtenta­çã ode viajara Londres. O técnico do Sporting tem, muitas vezes, a capacidade rara de nos desarmar comum misto de frontalida­de e bonomia. Mas, desta vez, ficou mais a sensação de que um qualquer guru oterácon vencido que o Liverpool nãoi ri aperceber que o WestHa mera apenas um engodo…

çO desenlace das eleições do FC Porto foi a decorrênci­a lógica de um amontoado de pecados de gestão mais ou menos graves e de outras distorções desavergon­hadas, não sendo despiciend­os os erros de palmatória cometidos pela lista A durante toda a campanha eleitoral. A forte corrosão na governança de Pinto da Costa era evidente há, pelo menos, dois mandatos, como tentei explicar há uma semana. E há muito era evidente que “o presidente dos presidente­s” poderia ser deposto por um proponente suficiente­mente mediático, destemido nas denúncias e tendo por trás uma equipa de gente válida e com ideias progressis­tas e meios suficiente­s, como foi capaz de apresentar André Villas-Boas (AVB).

É, por isso, um equívoco acreditar

que o desencanta­mento largamente majoritári­o foi provocado, em primeira ou segunda instâncias, pelo menor rendimento da equipa de futebol nesta Liga. E, ao contrário do que também já se ouviu, a sublevação não foi principalm­ente imposta pelas gerações mais novas. Porque foram precisamen­te nas últimas mesas de voto (para onde foram encaminhad­os os sócios portistas com numeração mais elevada e, por inerência, com uma média etária mais baixa) que se verificou a menor per- centagem de participaç­ão eleito

ral (mesmo assim muito mais elevada do que é hábito).

Houve, de facto, uma vontade

coletiva de transforma­ção, im- posta por uma enorme maioria mais ou menos silenciosa. Mas sendo verdade que há muito se anunciavam ventos de mudança

no Dragão, o que acabou por acontecer foi um autêntico ven- daval que terá surpreendi­do até os correligio­nários mais próximos de AVB. A vitória avassalado­ra (mais de 80%) deste “movimento de emancipaçã­o” mostra que o clube está menos dividido do que era suposto e anunciado,

isto, claro, se atendermos ao combate mediático travado pelas duas candidatur­as. Representa também um momento histórico na vida do clube. Pela participaç­ão recorde (quase 27 mil votantes) e principalm­ente por assinalar o fim de uma era com mais de quatro décadas.

Pinto da Costa podia e devia ter

evitado o vexame de ir a votos e de sair de cena com uma percentage­m de votos tão diminuta, muito abaixo do que conseguiu o segundo mais votado (José Fernando Rio) há quatro anos. E o erro de avaliação, como aqui escrevi em novembro do ano passado, é ainda mais inaudito vindo de quem conhece bem o pulsar e a história de uma cidade que, sob a liderança de D. Pedro IV, resistiu ao cerco dos absolutist­as monárquico­s durante mais de um ano, provando já então ser uma referência da vitória liberal e da luta pela liberdade. Mas Pinto da Costa é hoje demasiado susceptíve­l aos ‘imputs’ de um círculo restrito que, insisto, tinha mais a perder do que ele próprio. Ninguém desse universo teve a capacidade ou a coragem de alertar que, também no futebol, tudo tem um termo de caducidade. E até futuros líderes devem retirar um ensinament­o: nem as figuras mais incontestá­veis devem ter a veleidade de pensar que se podem justapor aos anais de um clube.

A derrota esmagadora de Pinto

da Costa não atrapalhar­á minimament­e a proeminênc­ia que ele irá ter sempre na história do FC Porto e do próprio desporto português. E quando todo o estádio do Dragão se soergueu, no minuto 42 do clássico de anteontem com o Sporting, para o aplaudir demoradame­nte não fez mais do que lhe prestar uma justa e genuína homenagem. Um agraciamen­to que terá, no futuro, de ter outra expressão, até do ponto de vista protocolar, como o próprio AVB já prometeu.

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