SÁBADO

Como vender os produtos portuguese­s na Rússia

Passam semanas fora, pagam excesso de bagagem para mostrar a porcelana, as colchas e os chouriços a clientes. Estes caixeiros-viajantes modernos foram a Moscovo.

-

Um provérbio russo diz que ver apenas uma vez é o mesmo que ouvir 100 vezes – ou seja, não há emails ou telefonema­s que substituam uma reunião pessoal. Ana Vilarinho, 20 anos de estrada e aeroportos, sabe bem isso. Há muito que uma colega da Cup & Saucer (o maior fabricante de porcelanas da Península Ibérica desde que, em 2010, comprou a SPAL) tenta fechar negócio com uma torrefacçã­o de Moscovo. Houve um início promissor de emails, interesse nas chávenas de porcelana personaliz­adas produzidas pela empresa de Vilarinho das Cambas, que exporta 70 por cento para cafetarias fornecidas pela Delta, Lavazza ou Nestlé. Mas depois, as respostas de correio electrónic­o passaram a ser espaçadas.

Na última semana de Outubro, durante uma missão empresaria­l com outras cinco empresas portuguesa­s, organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), Ana Vilarinho esteve em Moscovo e contactou-os: mostraram-se disponívei­s para a receber. Enquanto enfrentava­m de táxi o trânsito caótico da capital russa – o“é já ali” pode demorar meia hora a 40 minutos – ou se deslocavam para as reuniões de metro, os representa­ntes destas empresas portuguesa­s ouviram chamar-lhes na brincadeir­a de “caixeiros-viajantes modernos”. É verdade que as malas vão carregadas de amostras – e até é frequente pagarem excesso de bagagem –, mas o objectivo não é vender apenas meia dúzia de produtos, é abrir portas para a exportação.

Nas duas semanas por mês que passa fora do País em contactos, Ana Vilarinho leva sempre um pequeno e resistente trólei com catálogos e algumas das 350 chávenas de diferentes formatos para mostrar aos potenciais clientes da Cup & Saucer. Já a Samsonite grená de Rosa Maria Martins, com cerca de 20 quilos de amostras de tecidos produzidos nas instalaçõe­s da Têxteis D.A., no Lordelo (Guimarães), viaja todos os anos para os Estados Unidos e Itália, mas também já esteve no México, Bielorrúsi­a e agora chegou a Moscovo: “A vinda da nossa empresa aqui é para estabiliza­r o mercado, para nos virarmos para o Leste”, explica a directora comercial. É apenas uma “viagem de prospecção”, para conhecer como o mercado funciona, o que procuram as lojas – e até os costumes russos, que raramente se cumpriment­am com um ou dois beijos; um aperto de mão ou aceno com a cabeça basta. Os negócios, perce-

“AS CULTURAS ASIÁTICAS PODERÃO TER UM BENEFÍCIO ECONÓMICO MUITO MAIOR”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal