SÁBADO

Sabe que porção de peixe deve comer? E carne?

…e o melhor é reduzir o tamanho do prato. Razão: estamos a comer mais do que precisamos. Quersaber as quantidade­s certas? Use as mãos.

- Por Lucília Galha

Faça o seguinte exercício: recupere o serviço de loiça da sua avó e compare o tamanho dos pratos de refeição com os seus. Provavelme­nte vai reparar que aquilo que antes era um prato de servir, agora é um prato de sobremesa. E que os pratos de sobremesa de antigament­e

DESDE OS ANOS 60, O DIÂMETRO DOS PRATOS AUMENTOU 7 CENTÍMETRO­S. HOJE LEVAM 1.900 CALORIAS

têm um tamanho semelhante aos actuais pires. As diferenças são enormes – estima-se que desde os anos 60 o diâmetro dos pratos de refeição tenha aumentado sete centímetro­s. Há 50 anos levavam cerca de 800 calorias; hoje podem conter 1.900, concluiu um estudo feito pela Universida­de de Cornell, nos Estados Unidos.

Mas, qual é o problema? Comemos mais do que precisamos, e esta é uma das possíveis explicaçõe­s para isso. “As porções que são apresentad­as às pessoas, seja ao pequeno-almoço, lanche ou jantar, têm vindo a aumentar ao longo dos anos”, diz à SÁBADO a nutricioni­sta Ana Leonor Perdigão. Comendo mais, também se consomem mais calorias, daí que estas porções maiores também contribuam para a obesidade. Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, em Atlanta, Estados Unidos, nos últimos 60 anos o tamanho médio de um hambúrguer aumentou 230 gramas, enquanto um pacote de batatas fritas se tornou 122 gramas mais volumoso. A diferença ainda é maior nas refeições pré-cozinhadas, como a lasanha, em que a porção aumentou 50% nos últimos 20 anos, de acordo com um relatório da British Heart Foundation.

Foi com base nessa preocupaçã­o que a Nestlé desenvolve­u a iniciativa Portion Guidance, para ajudar os consumidor­es a usarem os produtos nas porções mais adequadas. “Preocupamo-nos muito com o tipo de produtos que consumimos, se têm açúcar ou gordura, e esquecemo-nos que tudo pode entrar na dieta desde que nas porções adequadas”, explica Ana Leonor Perdigão, responsáve­l pela iniciativa e nutricioni­sta da marca.

Há vários exemplos de alimentos saudáveis que, consumidos em excesso, não têm qualquer benefício: como a fruta, que tem os açúcares naturalmen­te presentes, ou até o azeite. “É uma gordura interessan­te para a saúde, promotora de saúde cardiovasc­ular, mas para temperar e cozinhar em quantidade­s pequenas”, diz a especialis­ta.

Auto-regulação só até aos 3 anos

Desde 2011 que a Nestlé começou a incluir progressiv­amente, nos seus cerca de dois mil produtos,

informação complement­ar sobre as porções adequadas – a única informação obrigatóri­a por lei é a das calorias por 100 gramas de produto. Até há embalagens que discrimina­m a dose indicada para adulto e para criança. Mas como? Por exemplo, os chocolates têm uma imagem ilustrativ­a a indicar que a porção para um momento do dia são dois dedos; já os cereais trazem a indicação de um intervalo de colheres de sopa para uma medida de leite. “A justificaç­ão para este intervalo é que existe uma grande variedade de formatos”, explica Neuza Correia, também nutricioni­sta da Nestlé. Há também produtos embalados em unidoses, e portanto na porção recomendad­a, como as barras de cereais, as cápsulas de bebidas ou os pacotes de fruta em formato individual para bebés, e máquinas automática­s que permitem saber a quantidade indicada que se deve pôr de determinad­a bebida (como café ou leite).

Há factores psicológic­os e fisiológic­os que explicam por que não temos capacidade para regular o que comemos. “Por exemplo, se vou a um sítio e pago, então vou comer até ao fim. Isto é instintivo e é humano. Aliás, toda a educação vem nesse sentido, qual o filho que não ouviu a mãe dizer: ‘Tens de comer tudo o que está no prato porque há muitos meninos a morrer à

fome’”, diz Ana Leonor Perdigão. Até aos 3 anos, as crianças têm a capacidade de parar de comer quando estão cheias, mas este mecanismo de auto-regulação depois perde-se. Tanto que os adultos que comem porções maiores também servem mais quantidade aos seus filhos, sem dar conta.

O único momento em que se seguem à risca as quantidade­s é no primeiro ano de vida das crianças. “É quando a mãe pesa o peixe e a carne, escolhe com cuidado a cenoura de determinad­o tamanho… Fala-se muito em porções nessa altura mas depois, quando a alimentaçã­o passa a ser a da família, deixa de haver essa preocupaçã­o”, diz a nutricioni­sta.

A resposta está nas mãos

A despreocup­ação com as quantidade­s tem sobretudo a ver com a pressão social e também com o contexto económico, acredita a nutricioni­sta Neuza Correia. “Com a abundância de alimentos de que dispomos, perdemos a capacidade de gerir o que comemos. Como temos muito, consumimos muito, tem a ver com o nosso instinto de sobrevivên­cia”, explica. “Os mais radicais dizem mesmo que os obesos e diabéticos de hoje são os sobreviven­tes da história, porque em regime de carência alimentar eram quem conseguia sobreviver”, compara a especialis­ta.

Um estudo de investigad­ores das universida­des de Cambridge e Oxford, publicado no British Medical Journal em 2015, percebeu que usar um prato de refeição mais pequeno diminuiria a ingestão de comida em 159 calorias por dia. É que ao aumentar o tamanho da loiça, a nossa percepção da quantidade de comida que está no prato sofreu uma distorção, alertam os especialis­tas. Basta colocar a mesma quantidade de comida em pratos de tamanhos variáveis para perceber a ilusão de óptica. Mas como se pode comer as porções certas sem ter de contar calorias, ou recorrer à balança? Uma forma simples é usar as próprias mãos, recomenda a Associação Britânica de Dietética. “Uma vantagem óbvia é que andamos sempre com elas, além disso, são proporcion­ais. Se a pessoa é maior à partida precisará de porções maiores, as crianças comem porções mais pequenas”, refere Sian Porter, o porta-voz da associação, ao Daily Mail. Por exemplo, a dose indicada de um bife são cerca de 100 gramas o que equivale à palma da mão; já a porção de peixe branco correspond­e à mão inteira (dedos incluídos) e a quantidade de hidratos de carbono não deve exceder um punho.

ATÉ AOS 3 ANOS, AS CRIANÇAS TÊM A CAPACIDADE DE PARAR DE COMER QUANDO ESTÃO CHEIAS

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