EDITORIAL Mariano Rajoy, o fundador do país catalão
Quando tudo parecia entrar finalmente pelo caminho certo – a deposição da questão independentista catalã nas urnas de voto –, o sistema político-judicial espanhol voltou a borrar a pintura. É certo que os líderes independentistas catalães cometeram diversos crimes à luz da Constituição espanhola de 1978 e de várias leis da República mas transformá-los em mártires da causa de menos de metade da população da Catalunha é um absurdo. O Governo de Mariano Rajoy não deveria ter respondido a uma farsa com outra farsa. Ao pedir a prisão preventiva dos líderes catalães, Mariano Rajoy entregou o caso ao sistema judicial e, com isso, transformou-se num Pilatos de pacotilha que, por sua vez, teve na juíza Carmen Lamela uma mão cúmplice e excessivamente pesada. Não tem sentido responder a uma questão desta magnitude política com a aplicação pura e dura da lei. Tal como é um enorme disparate tratar os crimes em causa como se fossem de terrorismo. Puigdemont e respectivos comparsas conduziram o independentismo catalão para um beco sem saída quando deveriam ter defendido uma solução de legitimação política nas urnas. Deveriam ter procurado alargar o consenso na sociedade catalã para chegar a uma fasquia muito superior aos 50% que, de resto, nunca atingiram em eleições. Deveriam ter evitado a radicalização nas ruas e, sobretudo, não ficar nas mãos dos 10 deputados do bloco de extrema-esquerda que foi a locomotiva da loucura dos últimos meses. Ao optar pela radicalização nas ruas cometeram vários crimes mas transformar estes crimes de desobediência colectiva em traição ou, caricatamente, transformar o suporte logístico de todo este processo em crimes de abuso de bens públicos, peculato e outros do género, é uma grosseira manipulação da lei pelo próprio Estado. Mariano Rajoy e a juíza Lamela acabarão por ser paradoxalmente os rostos fundadores da República da Catalunha se nas eleições de 21 de Dezembro os catalães votarem em peso nos partidos defensores da independência. Antes da aplicação da prisão preventiva aos dirigentes catalães talvez as eleições de Dezembro repusessem a velha atitude catalã face ao independentismo, que é como quem diz: sim, somos a favor da independência mas estamos bem assim, com o grau de autonomia que temos, quiçá um bocadinho mais em matéria fiscal. Agora, se não houver rapidamente uma solução política para estas prisões absurdas, a imprevisibilidade do que acontecerá dia 21 de Dezembro à noite é total. E isso não é bom para Espanha, para a Catalunha nem para a democracia.
O regresso da euforia
Como se adivinhava, o Governo, o PS e uma boa parte do País estão de regresso ao ambiente que se vivia antes da fatídica madrugada de 14 para 15 de Outubro. Os incêndios já lá vão, o novo sistema de protecção civil está a ser montado, o Governo já fez as mudanças necessárias, o que interessa agora, outra vez, é um orçamento que devolve dinheiro aos importantes nichos eleitorais da função pública e dos pensionistas, expande o consumo, traz satisfação aos parceiros bloquistas e comunistas do Governo. Regressa a euforia que deixará os centros comerciais cheios nos feriados de Dezembro e a oposição de direita sem praticamente quaisquer argumentos eleitorais senão o catastrofismo puro e simples. Costa resiste a tudo. Dos mais trágicos incêndios da história nacional às mortes por Legionella num hospital público, elas próprias testemunhas de um outro Estado, o das cativações e do desleixo, que fica cá e trata de nós entre cada Web Summit da glória nacional.
Regressa a euforia que deixará os centros comerciais cheios nos feriados de Dezembro e a oposição de direita sem praticamente nenhuns argumentos eleitorais senão o catastrofismo puro e simples