SÁBADO

Robert Knight (1945-2017)

-

No estado do Tennessee, onde nasceu – em Franklin, a 24 de Abril de 1945 – “no início dos anos 60 havia gente a cantar a cada esquina”, dizia Knight, que foi baptizado Robert Peebles. Quando se estreou a solo preferiu outro apelido artístico por sugestão do seu produtor, Noel Ball, “porque os disc jockeys estavam sempre a pronunciar mal” o seu apelido. Em 1961 conheceu um sucesso mediano com uma versão de Free Me (que superou em popularida­de a de Johnny Preston), ao lado do quinteto vocal The Paramounts, que fundou com amigos em 1959. Mas, depois de um par de boas canções – When You Dance e Why Do You Have to Go – e de vários fracassos, dissolveu a banda e foi estudar Química para a Universida­de do Tennessee.

Estava há quatro anos longe dos estúdios, só a cantar ocasionalm­ente com o trio The Fairlanes, quando Noel Ball o ouviu por acaso num bar e o convenceu a lançar-se a solo. Corria 1967 e apostou nele ao ponto de contratar amigos com provas dadas (mas não em conjunto) para comporem especifica­mente para a voz dele: Buzz Cason e Mac Gayden. Começaram a parceria pela balada country The Weeper, que era para ser o primeiro single de Knight, mas não chegou a ser editado. No fim de uma sessão de gravação, para aproveitar o tempo de estúdio (em Nashville, Tennessee, então a capital da country music), Buzz e Mac sacaram de outra canção que tinham escrito. Talvez pudesse ser o lado B, pensaram – e apresentar­am a pauta. Era Everlastin­g Love – título de Cason, inspirado pela

Bíblia, onde no Livro de Jeremias se lê “Sim, amei-te com um amor eterno” – e a gravação, tal como Knight e os autores recordaram em numerosas entrevista­s, nem começou por correr especialme­nte bem: ele não conseguia pronunciar as palavras no tempo certo, talvez porque o letrista vinha da country e o autor da música da soul e R&B. Resultado: “Os músicos, os coros, iam demasiado depressa”, costumava contar Knight, para explicar como começou a cantar à sua maneira, com uma cadência firme, de “batida e meia”, desrespeit­ando a pauta.

Não ficou mal, mas a canção “era estranha” e nenhum deles pensou que singrasse, portanto puseram-na no lado B de Somebody’s Baby, que tinha resultado melhor que The Weeper. Felizmente, alguém se lembrou de virar o disco –

Fez de Everlastin­g Love um clássico, mas gravou-o quase por acaso, para o lado B de um single que não chegou a sair. Depois trocou a música pela Química, mas nunca deixou o Tennessee, onde morreu MUDOU DE APELIDO QUANDO SE ESTREOU A SOLO “PORQUE OS DJS PRONUNCIAV­AM MAL” PEEBLES

numa rádio, depois noutra e por todo o lado... De repente a sua versão da canção do amor eterno estava no top. Ao longo das décadas seguintes, muitos a regravaram – dos Love Affair aos U2, Gloria Estefan e Jamie Cullum –, sempre com a tal cadência estranha à Knight, as palavras vincadas, em contraste com a toada soul, fluida, da melodia. Depois disso, Knight voltou ao sucesso mediano com Blessed Are The Lonely e Isn’t It Lonely Together e ainda foi “redescober­to” na Inglaterra dos anos 70 com Love On a Mountain Top, numa fase de renascimen­to da soul britânica, mas nada que o impedisse de trocar a música pela Química: nas três décadas seguinte, morou no campus e trabalhou na Universida­de Vanderbilt, em Nashville, dividindo o tempo entre o laboratóri­o e as aulas de Química e fazendo concertos apenas ocasionalm­ente. Reformado desde 2012, morreu em casa, no domingo, dia 5 de Novembro, na sequência do que parecia ser só uma doença passageira. Tinha 72 anos.

 ??  ?? LUIS GRAÑENA
LUIS GRAÑENA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal