SÁBADO

Marcelo em minha casa

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Nos dois anos da “colaboraçã­o institucio­nal” com António Costa,

a popularida­de de Marcelo Rebelo de Sousa foi extraordin­ária. Só terá caído um pouco (terá?) a partir do dia em que o PR teve de apontar um caminho ao Governo e este se apressou a segui-lo, permitindo depois o PS que figuras menores mordessem nas canelas do Presidente, em nome da “liberdade de expressão” – que tem costas largas.

Mas a maioria das pessoas é mais influencia­da pela realidade que lhe chega através da televisão do que pelas manobras da intriga doméstica. E a verdade é que, mais intensamen­te desde junho, o que nos entra pela casa dentro é a imagem do Presidente abraçado a portuguese­s desesperad­os – e, no caso dos incêndios, humilhados pela força demoníaca que tudo lhes arrancou – minimizand­o esse afeto não só o sentimento de perda das vítimas diretas das tragédias, como reduzindo também a aflição dos que assumiram o sofrimento como seu, e que somos nós, todos os que pudemos conservar vidas e bens, famílias e trabalho, dignidade e esperança no futuro. Digo-o por mim: abandonado que me senti nos negros dias do fogo, fui salvo, no sofá, por um afago que me retirou dos braços da angústia. E para mais agora, que enfrentamo­s a seca antes das cheias, preciso mesmo de Marcelo em minha casa – quero lá saber dos ódios da partidarit­e!

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