Quando é que um homicídio deve ser perdoado?
A resposta não é fácil no século XXI, quanto mais no século XIX, altura em que se passa esta história. Alias Grace é a nova série da Netflix e questiona se uma criminosa deve ou não ser perdoada por insanidade
Atendência será comparar esta minissérie baseada na obra de Margaret Atwood,
Alias Grace, que estreia na Netflix a 3 de Novembro, com outra da mesma autora –
The Handmaid’s Tale, que passou no canal Hulu. Numa coisa as semelhanças são evidentes: a protagonista é uma mulher oprimida numa sociedade que não lhe reconhece valor. Ao contrário de
The Handmaid’s Tale, cujo enredo descreve uma sociedade fictícia, aqui, em Alias Grace, a história passa-se no Canadá do século XIX e é inspirada numa história verídica.
Propositadamente ou não, esta minissérie que soma seis episódios é assinada por mulheres – no ecrã e por trás dele: escrita por Sarah Polley (que demorou 20 anos a adaptar a obra de Atwood ao ecrã), dirigida por Mary Harron (Psicopata Americano, 2000) e com Sarah Gadon no papel de Grace Marks, a protagonista.
A história real conta que Grace Marks foi uma criada de origem irlandesa condenada à morte pelo homicídio do patrão, Thomas Kinnear, e da sua amante. O caso tornou-se controverso porque não se conseguiu descobrir se foi ela a matá-los ou se Grace foi usada por James, rapaz dos estábulos, acusado do mesmo crime. Na altura, muitos acreditavam que a única justificação para um crime tão hediondo como aquele seria a possessão pelo demónio. James acabou condenado à morte por enforcamento e Grace foi transferida para a prisão de Kingston. Três décadas depois, foi perdoada e libertada.
Na série da Netflix emerge uma personagem que nada tem a ver com o caso real: um médico “que trabalha com a mente”, como é apresentado no trailer, procura Grace Marks na prisão onde ela já passou 15 anos, submetida a castigos arcaicos como chicotadas. Interessado apenas em analisar as suas memórias, o médico não pretende chegar a um veredicto. Convenientemente, Grace diz ter perdido parte da memória. Será assim ou o receio de reviver o crime é mais forte? Essa passa a ser a missão do psiquiatra que, a certo ponto, se envolve mais do que seria recomendável.
No final este terá de avaliar se Grace deve ou não ser ilibada por insanidade, visto que tudo nela grita (além do comportamento anormal) problemas mentais. É que além de ter sido acusada de um duplo homicídio, Grace diz falar com os mortos.
BASEADA NA OBRA DE 1996 DE MARGARET ATWOOD, ALIAS GRACE CONTA A HISTÓRIA DE UMA ASSASSINA – GRACE – QUE DIZ NÃO TER MEMÓRIA DOS CRIMES DE QUE É ACUSADA